O professor e sua condição:
formador ou mero instrumento de execução?
No município do Natal conta-se com
mais de 100 instituições de ensino da rede pública: 54 escolas e CEMEIs na Zona
Norte; outras 19 na zona Sul; mais 17 na Zona Leste e, 46 na Zona Oeste. Em
2012 mais de 49 mil discentes estão matriculados e ainda há um grande excedente
devido à falta de sala de aulas disponíveis na rede municipal da capital
(apesar das informações oficiais camufladas). São mais de 4.500 docentes. Os números
são pomposos. O contingente é grande. Imagine o número de famílias, com pais,
avós, irmãos e parentes que orbitam esse substancial número de alunos com
matrícula efetivada? A maioria deles vive nas periferias que têm bairros muito
populosos, onde também está a maioria absoluta das instituições de ensino da
capital potiguar. Boa parte desses cidadãos vota e estamos em ano eleitoral.
Grande parte desses bairros periféricos serve de base eleitoral para muitos
vereadores atuais e futuros postulantes, bem como interessam eleitoralmente ao
executivo (esse ano com toda a certeza).
Estamos
quase iniciando mais um ano letivo e, verdade seja dita, com um certo atraso em
virtude, dentre outras coisas, da completa falta de estrutura física e
pedagógica nas escolas municipais. Com quem conversamos (professores e gestores
escolares) ouvimos acerca de problemas de sucateamento das instituições de
ensino público municipal: faltam carteiras; faltam ventiladores e/ou estão
quebrados; falta gás para fazer a merenda; falta a merenda; falta biblioteca
com espaço adequado; falta livro nas pífias bibliotecas; faltam salas de
leitura e de vídeo para qualificar o processo de ensino-aprendizagem (na Escola
Mun. Prof. Amadeu Araújo em Nova Natal mandaram acabar com o projeto de ambas,
apesar de a Escola ter conseguido um 2º lugar num concurso nacional sobre
leitura – deixa pra lá! Nesta escola falta muito do que foi citado). No meio
dessa “fartura” toda falta base salarial decente para o professor e plano de
carreira honroso, faltam promoções há muito devidas, falta dignidade dos
poderes públicos para conosco, falta recarga no cartão do vale transporte (mas
sobra o desconto desde 2011), falta respeito à atividade docente. Não faltam
cobranças para que o professor salve a educação (como bem disse Amanda).
E,
nesse início de ano letivo, mais uma vez, estamos com indicativo de greve, apesar
da direção do sindicato, por vezes, parece estranha, já ventilar a possibilidade
de não haver. Mas, será que a greve resolve esse caminhão de problemas? Há quem
diga que é o único caminho. Eu tenho cá minhas dúvidas! Porque depois de uns
dias de greve (vide anos anteriores), aparece um magistrado bem intencionado e
superpreocupado pelo fato de os alunos estarem fora das salas de aula (mas não
está nem aí para saber em que condições eles estão quando estão nelas) e
decreta a ilegalidade da greve de forma que acaba todo mundo voltando de cabeça
baixa e sendo taxado de preguiçoso por boa parte da sociedade, inclusive por
parte de pais de alunos. Na verdade, juízes têm seus filhos em escolas bem pagas
e gestores públicos também: a qualidade da educação pública é um mero detalhe.
O que interessa mesmo são os números quantitativos que entopem estatísticas dos
governos no Brasil e os gráficos de organismos internacionais (capitalismo é
capitalismo). Também é interessante jogar o problema da educação para outros –
de preferência que seja nas mãos do professor.
Paulo
Freire dizia que ensinar exige postura política. Essa postura colaboraria para
a libertação dos oprimidos e, venhamos e convenhamos, somos muitos no Brasil –
professor do ensino básico que o diga! Mas, voltando aos números iniciais do
primeiro parágrafo e pensando na qualidade de formador de opinião (em sala de
aula, será?) que deve ser inata ao professor, será que não poderíamos começar a
(in)formar politicamente nossos alunos e, por tabela, seus familiares. Será que
não temos realmente a força da mudança? Um ou dois, eu acho que não, mas a
totalidade docente do município do Natal, trabalhando coordenadamente para
mostrar aos alunos o que nossos políticos atuais realmente fazem para as
camadas menos favorecidas das periferias, eu imagino singelamente que
poderíamos levantar alguma poeira.
Não
precisamos do sindicato para (in)formar nossos alunos. Não precisamos ter medo
da SME ou de quem quer que seja. Provocar o pensamento crítico de nossos alunos
e, de certa forma atingindo seus pais também, é deve do trabalho docente. O que
será que cada inoperante vereador faria se soubesse que em suas bases
eleitorais estão sendo plantadas sementes de criticidade política? E os futuros
candidatos, iriam rever suas posturas políticas e ações? Nós, professores
estamos nessas comunidades ano após ano e politiqueiros de quatro em quatro.
Quem tem poder de formar uma consciência política libertária no povo? Sei que
eles têm os meios de comunicação, dinheiro e poder. Mas nós temos a
persistência e o dia a dia no contato direto. Quem pode nos impedir? Respondo:
nós mesmos! Temos força também, mas não a usamos. Somos formadores sim de
opinião, mas preferimos atuar como meros executores de uma educação falida que
deseduca (com nossa aquiescência pedagógica e política). Entendamos nossa
condição: não é a mais forte no sistema capitalista e político imposto, mas
também não podemos ser massa de manobra nem de gestor público e nem de
sindicato, achando que somos coitadinhos e fracos totais. Podemos agir juntos
sempre e tentar realmente mudar alguma coisa. Talvez, depois a greve tenha
realmente força no nosso contexto social, ganhe apoio público e valha a pena.
Abraços cordiais,
Veridiano Maia - professor