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Geraldo Amancio |
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Vila Nova |
Lampião, rei do cangaço!
Foi manso como um cordeiro
Teve o pai assassinado
Se sentido injustiçado
Se torna, então, justiceiro
O reilho de comboieiro
Troca pelo mosquetão
Esquece burro e surrão
Frete, tropa, corda e laço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Conduzia o cangaceiro
Além de rifle e punhal
Carne seca no bornal
Farinha e sal pra tempero
Fumo e remédio caseiro
E patuá de proteção
Dez quilos de munição
Forravam seu espinhaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Antes de ser cangaceiro
Vivia da paz da choça
Foi trabalhador da roça
Tangeu burro, foi tropeiro,
Foi poeta e sanfoneiro
Tocou fole e violão
Fez martelo e fez quadrão
Do mesmo jeito que eu faço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Não podia existir paz
No país dos cangaceiros
‘Homena’ contra ‘Calheiros’
Os ‘Ferraz’contra os ‘Novaes’
Os ‘Cabral’ contra os ‘Moraes’
Morte, vingança e questão
Montes, Feitosa e Mourão,
De todos herdou o traço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Andava bem equipado
Por vereda e por floresta
Chapéu quebrado na testa
Botas de couro de gado
Bornal de balas de lado
Rifle e cruzeta na mão
Três palmos de dimensão
Tinha seu punhal de aço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Quando um patrão desonrava
E à moça pobre ofendia
Quando lampião sabia
As providências tomava
Sendo solteiro casava
Casado ia pra o caixão,
Serviu de exemplo e lição
Pra fazendeiro devasso
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Foi herói, bandido e louco,
Foi um mestre sem estudo
Um gênio acima de tudo
Que teve o mal como troco
Se envultava em pé de touco
Na força da oração
Enfrentava um batalhão
Sem levar nenhum balaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Um primitivo ‘sandino’
Um estrategista bruto
Um Fidel Castro matuto
Um Roximbi nordestino
Adulto virou menino
Quando teve uma paixão
Aí o seu coração
Muda o ritmo e o compasso
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Desconfiado e valente
Lampião temia mais
Uma só sombra por trás
Do que cem homens na frente
Obedecia somente
Ao Padre Cícero Romão
O resto era no facão
Na lazarina e no braço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
No bando de Virgulino
Nomes que a gente destaca
Zé Sereno, Jararaca
Ezequiel e Livino
Volta Seca e Ponto Fino
Pilão Deitado e Balão
O sangue ensopando o chão
E balas cruzando o espaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Tendo Angicos como coito
A sua tropa reúne
Se sente da morte imune
E ali fica mais afoito
Em julho de trinta e oito
Tombou sem vida no chão
Na corda da traição
Findou caindo no laço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
Maria, amante e consorte,
Nordestina destemida
Foi companheira na vida
Na desventura e na morte
Sente um choque muito forte
Ao vê-lo morto no chão
Cai sobre o seu coração
Dando o derradeiro abraço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.
***
Nesta, os repentistas fazem uma ode genial aos cordelistas e aos cordéis conhecidos no nordeste brasileiro. A composição é uma sextilha que quebra sempre nos versos ímpares, tornando a composição nove por seis (Aqui quem inicia com a primeira estrofe é Vila Nova, alternando-se com G. Amancio).
Tem Vicente Vitorino
***
Nesta, os repentistas fazem uma ode genial aos cordelistas e aos cordéis conhecidos no nordeste brasileiro. A composição é uma sextilha que quebra sempre nos versos ímpares, tornando a composição nove por seis (Aqui quem inicia com a primeira estrofe é Vila Nova, alternando-se com G. Amancio).
NOVE PALAVRAS POR SEIS: CORDELISTAS E CORDÉIS
IVANILDO VILA-NOVA E GERALDO AMANCIO
IVANILDO VILA-NOVA E GERALDO AMANCIO
Lu de Jorge, Carolina,
[ou Josina]
E o herói João de Calais
Um Agenor e Helena
[Madalena]
Oliveira e Ferra Braz
José de Souza Leão
[o
Lampião]
E As Queixas de Satanás.
José Camelo, um dos nomes,
[Leandro
Gomes]
Manoel Camilo e Palmeira
Manoel de Almeida e Zé Lima
[boa
rima]
É a de Cícero Vieira
João Martins, Chico Firmino,
[Minelvino]
E Severino de Oliveira.
A Deusa do Maranhão
[a
discussão]
De Rio Preto e Vicente
Cecília e Natanael
[Daniel]
Debate de Padre Crente
Pecado de Adão e Eva
[Genoveva]
E O Sertanejo Valente.
Um Lucas Evangelista
[Paulo
Batista]
Zé Pacheco, Zé Visgueiro!
Manoel Apolinário
[Olegário]
Fernando, bom folheteiro.
Chico Sales, Téo Macedo,
[Téo
Azevedo]
E Pedro Mendes Ribeiro.
Invasão da Carestia
[Zé
Garcia]
E As Belezas de Campina...
Virgem dos Lábios de Mel
[tem
Mabel]
E A Vingança de Marina
O Amor no ABC
[São
Saruê]
E Genário com Jovelina.
Tem Vicente Vitorino
[Carolino]
Manoel Caboclo e Palmeira
Além de João Severo
[lembra
Homero]
João Melquíades diz
Ferreira
O Teodoro Ferraz
[ainda
mais]
João Freire e Paulo Teixeira.
Carrancas do Piauí
[e
Bem-te-vi]
Vida de Zé Colatino
O Macaco da Montanha
[João
Saldanha]
E As Bravuras de Silvino
O Cego e o Aleijado
[Jorge
Amado]
E meu Jesus é Nordestino.
Nas Portas do Cabaré
[Josué]
José Gustavo e Roxinha
Grinaura, Sebastião
[Frei
Damião]
Mais Pedrinho e Julinha,
Previsões do Fim do Mundo
[vira
mundo]
Com Zezinho e Mariquinha.
Dedé, Patrícia e Antônio,
[Apolônio...]
...Alves que tem boa pena!
Um Expedito Francisco
[já
tem disco]
Costa Leite e Santa Helena
Caetano, Cosme e Diniz,
[Manoel
Luiz]
E Joaquim Batista de Sena.
Sofrimento de Jesus
[João
da Cruz]
O Sabido Sem Estudo
O Pavão Misterioso
[João
Mimoso]
Zé Lapada e Topa Tudo
Temos João Grilo e Cancão
[Corrupião]
Os Monstros do Morro Agudo.
Chagas e Abraão Batista
[romancista]
É Altino Alagoano
Antônio Américo Medeiros
[dos
primeiros]
Tem Dila e Valeriano
Cuíca, Enéias Tavares,
[J.
Soares]
E Antônio Paraibano.
Jurandir e Nobelino,
[Zé
Faustino]
S. Borges, cordel fez!
Um Antônio Canhotinho
[Zé
Sobrinho]
Severino Milanês
‘Telarme’ e Rodolfo Coelho
[um
espelho]
Em nove palavras por seis.
***
Ouçam cantoria de viola do repentistas nordestinos. Vão a cantorias. Prestigiem esse patrimônio da cultura imaterial do Brasil. Vale a pena ouvir repentistas do naipe de Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amancio, Raimundo Caetano, Severino Feitosa, Antônio Lisboa, Edmilson Ferreira, dentre tantos outros.
Deus, o homem e a natureza –
Vila Nova e Geraldo Amâncio (Bela Sextilha)!
Quando canto vejo a meiga
Claridade do luar
Vendo a flor colhendo
o beijo
Dos lábios frios do ar
E a praia enfeitando
os fios
Do lençol verde do mar
Sinto a aurora brotar
Num formato de miragem
Em cada curva da
estrada
Há um leque de
paisagem
Abanando as tranças
verdes
Dos cabelos da
folhagem
Dançando eu crio a
imagem
Do filme que Deus
coloca
Onde o sol por
generoso
Cria, aquece, guia e
foca
É quem dá tudo de si
E nada recebe em troca
Quando maio se coloca
É mais bonito o sertão
A floresta se
ornamenta
De rosa, flor e botão,
E as flores brancas à
noite
Parecem estrelas no
chão
O sopro da viração
Deixa a impressão de
perfume
Os últimos raios da
tarde
Pincelam cristas do
cume
Entregam o crepúsculo
negro
Aos faróis dos
vagalumes
Há espirais de perfume
Nas ‘mãos caldas’ do
mormaço
As nuvens do
firmamento
Se desmanchando em
pedaço
Parece um leque de
bruma
Na concha azul do
espaço
Terra que assiste o cansaço
Do passo do retirante
Quando as rajadas
cruéis
De uma seca
horripilante
Tange a poeira dos
rastros
Do camponês emigrante
Pingo de orvalho
brilhante
Na floresta da ‘masquina’
O pirilampo, um
arcanjo,
Da lanterna pequenina
A água, cristal eterno,
Na galeria divina
Seguir de Deus a
doutrina
É dever da criatura
Semeia grãos de
virtude
E aguarda a safra
segura
Plantando a semente
boa
E colhe a espiga
madura
Respeita as leis da
altura
Na dor do esquecimento
Viajo o barco dos anos
Com o seu carregamento
Pérolas que são
extraídas
Nas minas do
sentimento
E a voz do pensamento
Transforma o sonho em
cadência
Cantando o lírio dos
campos
Os frutos da
pudecência
Na substância abstrata
Dos sonhos da
inocência
Onde não foi a ciência
Onde ficou a bonança
A viola é o piano
Que toco desde criança
Sonorizando saudades
Nos teclados da
lembrança
Nos planos que a rima
alcança
Tendo a vida por irmã
De noite ilusão
perdida
De dia esperança vã
Castelos de pedra hoje
Sonhos de areia amanhã
Na neve da cor de lã
De minha ilusão de
infante
Há um castelo de
estrelas
Nas barras do meu
levante
Que não brilharam até
hoje
Brilharão daqui por
diante
Vou voando a todo
instante
Para alcançar outro
império
As formas de um mundo
novo
As luzes de outro hemisfério
Rompendo a malha
invisível
Desse profundo
mistério
Por ter notas de
saltério
O improviso é um santo
Na vida corta as
fronteiras
Em sonho cresce outro
tanto
Se transporta sem
andar
E voa sem sair do
canto
Como um rugido de
espanto
Do tiro da belonave
O fogo afastando a
nuvem
O eco espantando a ave
Rompendo o sossego
aéreo
Do infinito suave
Deus a ninguém deu a
chave
Desse edifício
perfeito
Mar gigante, terra
enorme,
Céu infindo, bosque
estreito,
Fez tudo e não veio
ainda
Dizer porque tinha
feito
Do rio, estuário e
leito,
Da fruta, o tempo e a
vez,
Ano longo, dia curto,
Semana, estação e mês;
Ele fez tudo, mas pode...
Desfazer tudo que fez
Manda um tudo, rei dos
reis,
No raio que do céu
desce
Tempestade que desaba
Terremoto que
estremece
Em tudo está sua mão
E o homem não
reconhece.
***
Ouçam cantoria de viola do repentistas nordestinos. Vão a cantorias. Prestigiem esse patrimônio da cultura imaterial do Brasil. Vale a pena ouvir repentistas do naipe de Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amancio, Raimundo Caetano, Severino Feitosa, Antônio Lisboa, Edmilson Ferreira, dentre tantos outros.
PARABÉNS PELO BELÍSSIMO TRABALHO! GOSTARIA DE OUVIR A MÚSICA DO SOBRE O LAMPIÃO. SERIA POSSÍVEL? DESDE JÁ AGRADEÇO E UM FORTE ABRAÇO!
ResponderExcluirDemorei a responder, mas aí vai o link:
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=gKnWFUo2vJM