sexta-feira, 20 de abril de 2018

Made in Brazil


O Brasil é realmente um espaçotempo social atravessado de justificadas asquerosidades e brutalizações simbólicas e materiais de infinitas potencialidades. No Brasil não existe e nem existirá um fundo do poço porque, parece, o poço brasileiro não tem fundo. Poderemos cair mais e mais e, a depender do ângulo de ‘idiotização’ e ‘malicialização’ de um ou de outro, haverá uma justificativa para deleitar o próprio regalo de quem argumenta nossas atrocidades.
Dentre todas as nossas desgraçadas distorções historicamente mal contadas, a morte causada, pensada, violenta,
intencional, é mais uma faceta plausível de nossos empreendimentos justificadores. Assim, numa prosa entre o idiota generalizado e a malícia vertiginosa, qualquer usurpação extravagante da vida humana, no Brasil, pode ter um “belo” argumento a aliviar a alma e redimir nossas atrozes atitudes pouco civilizadas:
Diz o idiota:
- minha amiga malícia, você viu a última notícia? Mataram dez no bairro tal!
Retruca a malícia:
- envolvidos com drogas?
- Sim, afirma o idiota!
- também – analisa a malícia – queria o quê? Bem, feito! Quem se mete com coisa desse tipo, só merece bala e caixão! E aquela mulher que enfrentou e denunciou o marido violento?
- uma feminazi que não sabia se comportar, impõe o idiota! E aquele militante de esquerda que foi executado?
- isso é o que acontece com esses esquerdopatas, com essa coisa de Direitos Humanos que só defendem bandidos. Mas, teve um policial morto na frente de casa quando voltava do trabalho...
- pois é malícia, um imbecil, queria ser honesto demais, combater criminosos a todo custo, com o salário que ganha um policial? De peito aberto? Besta! Olha o que dá querer ser santinho no Brasil, se apressa a justificar a idiota! Igual àquela Promotora linha dura. Ainda teve aquele religioso que inventava de ir para as periferias pra ajudar vagabundo, com essa história de desigualdade social.
A malícia logo concorda:
- o que é que tinha de ir se meter com essa gente de favela? Como aquele deputado que lutava por reforma agrária, foi se meter com quem estava quieto e que tem suas propriedades há séculos, dá nisso!
E assim podemos exagerar em quase todos os graus de conversa que tal “cidadão de bem” deitará uma justificativa atroz para nosso próprio desprezo comunitário. Somos violentos, arrogantes e mal educados. Mas, deitamos falação sobre a indelicadeza do viver do outro, apontando seus erros e desavenças com a “moral” e com os “bons costumes”. E assim, todo brasileiro é bom e honesto – mesmo sendo portador de cada jeitinho! E até que se prove o contrário, o terceiro comentado tem sempre um bom motivo para se lascar. Um “elegante” e “promissor” processo civilizacional por estas bandas. Quase modelo europeu.

Imagem: Wikipédia

Livro de poesia: Na bacia das almas

NA BACIA DAS ALMAS, O SEGUNDO LIVRO DE POESIA DE VERIDIANO MAIA DOS SANTOS, ABORDA POEMAS SOBRE A CIDADE, SUA CONCRETUDE E SEUS SIMBOLISMOS...