
Na constante multiplicação de
incertezas sociais pelas quais trafegamos nos dias atuais e vindouros, a
subjetividade dos indivíduos em contexto social deve ser pensada dentro do
simbolismo que marca suas decisões e que podem se deparar em contramão às nossas opções e as dos nossos
semelhantes dentro dos espectros comunitários complexos.
Somos as cicatrizes de nossas
interpretações e elas se somam em nossas discrepâncias intersubjetivas em
relação às formas com as quais entendemos o mundo e na forma com que as
desigualdades de pensamentos nos confrontam. O confronto entre olhares difusos
não é uma tarefa simples de compreensão para quem se acha impelido a aceitar a
força do contrário social. Mas, também pode ser de significativo ensinamento no
exercício da oposição de ideias dentre os contextos de indivíduos e dos grupos de
pertencimento. Pois, colocar-se no lugar do outro requer abstração das próprias
convicções e elaborar um movimento de entrar no cenário do qual não nos oferece
a melhor configuração das cores expostas aos nossos olhos.
Maturana e Varela (2001) inferem
que a reflexão é um processo de conhecer como conhecemos, portanto, um ato de
voltar a nós mesmos, a única oportunidade que temos de descobrir nossas
cegueiras e reconhecer que as certezas e os conhecimentos dos outros são,
respectivamente, tão aflitivos e tão tênues quanto os nossos. E, nesse aspecto,
podemos dialogar nossas posições e identidades com as dos outros, ao
negociarmos olhares divergentes dentro do cenário de diferentes posições de saberes
sobre um mesmo fenômeno e as relações de poderes que tal objeto de conhecimento suscita-nos.
Esse processo reflexivo nos leva ao
entendimento de que as subjetividades humanas, seus contextos sociais e
posições dentro do quadro cultural, estão imbricadas por representações que
transformam em ordinárias as comunicações de conceitos e consensos sociais e que
transitam em nossas mentes grupais por meio das quais angariamos nosso modo de
comportamento e de ações sobre um dado objeto. Assim, o interno e o externo se
misturam e formam o nosso caldeirão de signos que nos ditam o lugar de onde
falamos em cada momento histórico.
Alteridade e ego se desafiam no
contraste social e na identidade do indivíduo, e, deste, em sociedade sobre o outro implicado.
A existência do eu e do outro
são os corpos simbólicos das ativações de saberes e de poderes que se cruzam em
campos representacionais que alimentam as posições intragrupos e entregrupos
sociais. "O homem existe – existere –
no tempo. Está dentro. Está fora. Herda. Incorpora. Modifica. Porque não está
preso a um tempo permanente que o esmaga, emerge dele. Banha-se nele.
Temporaliza-se” (FREIRE, 2011). O subjetivo e o objetivo se
materializam dentro das rotinas temporais na simultaneidade dos consensos e
dissensos dos indivíduos membros de um grupo social.
Nos tempos atuais é preciso que
tenhamos a proatividade investigadora na busca por, cada vez mais, entendermos
o lugar dos outros, dos grupos e dos indivíduos dentro do vasto arquipélago
social que se transformou nossa malha comunitária brasileira. Desvendando suas
perspectivas de mundo e de sociedade, seus olhares e saberes que se imbricam e
se distanciam em meio ao turbilhão de informações a que temos acesso
diariamente. Esse movimento investigativo é necessário e preponderante para
discutirmos e problematizarmos alternâncias e limites para o discurso e o
discurso de poder/saber de indivíduos e grupos nos espaçostempos nos
quais estamos submersos.
Dijk (2015), nos diz que "é evidente que o pertencimento a um grupo ou instituição por parte dos falantes e a desigualdade social tomada em termos genéricos introduzem diferenças a respeito do controle do diálogo em andamento. Essas diferenças aparecem, por exemplo, na conversa entre homens e mulheres, adultos e crianças, brancos e negros, ricos e pobres, ou entre os que frequentaram a escola durante mais ou menos tempo. Parte-se do pressuposto de que um controle desse tipo, exercido pelo falante com mais poder, pode entender-se à alocação ou apropriação do turno, à escolha do ato de fala, à seleção e mudança de tópico e ao estilo".
Dijk (2015), nos diz que "é evidente que o pertencimento a um grupo ou instituição por parte dos falantes e a desigualdade social tomada em termos genéricos introduzem diferenças a respeito do controle do diálogo em andamento. Essas diferenças aparecem, por exemplo, na conversa entre homens e mulheres, adultos e crianças, brancos e negros, ricos e pobres, ou entre os que frequentaram a escola durante mais ou menos tempo. Parte-se do pressuposto de que um controle desse tipo, exercido pelo falante com mais poder, pode entender-se à alocação ou apropriação do turno, à escolha do ato de fala, à seleção e mudança de tópico e ao estilo".
Esses movimentos, subjetivos e sociais - de indivíduos e seus grupos -, em meio ao campo representacional acerca de um objeto ou fenômeno pelos quais se revelam conceitos e comportamentos, podem nos valer a compreensão de como as dinâmicas e escolhas em sociedade são afirmadas ou negadas no espectro de nossa conjuntura brasileira atual. Entre o alter e o ego, o limite de nossas escolhas estão afeitas a afetos, consensos e dissensos sociais - por meio do ordinário conhecimento do cotidiano -, e subjetivos - a partir do desacordo que distingue o pensar dentro de um grupo humano, mas que se revela sensivelmente importante nos embates de poderes/saberes no contexto da sociedade contemporânea. Afinal, os outros e eu, estamos todos entrelaçados pelos ditames de nossas posições, de nossos poderes/saberes, de nossas decisões e comportamentos, de nossas representações.
Referências:
DIJK, Teun A. van. Discurso e poder. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 14. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011
Referências:
DIJK, Teun A. van. Discurso e poder. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 14. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011
GONZÁLEZ REY, F. L. A new path for the discussion of Social
Representations: advancing the topic of subjectivity from a cultural historical
standpoint. Theory & Psychology - 2015.
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão
humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.