quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desabafo de uma professora!

RESPOSTA À REVISTA VEJA
 
 
 
Abaixo estou postando uma cópia da carta escrita por uma professora que trabalha  no Colégio Estadual Mesquita, à revista Veja. Peço, por favor, que repasse a todos que conhece, vale a pena ler:

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima "Aula Cronometrada".

É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que  geram este panorama desalentador. Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação.  Há necessidade de todos os que pensam que: "os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital" entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses "repletos de estímulos" que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridas na era digital?  Em que pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida?  Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola. Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores, e não cumprir as obrigações, fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje "repletos de estímulos". Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite (quando o têm), brincando no Orkut, ou, o que é ainda pior, envolvido nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

Realmente, nada está bom.  Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina. Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos?
Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. 

Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria... Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas "chatas" só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Hoje, professores "incapazes" dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a "passeios interessantes", planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. 

E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom.
Além disso, esses mesmos professores "incapazes", elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins de semana, tudo sem remuneração; todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais.
E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.

Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de "cair fora".Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de "vaca","puta", "gordos", "velhos" entre outras coisas.
Como isso é motivante... E temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares. Lembro-me de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos. 

Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade...

Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos se sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.

Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!
Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no País, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  "incapazes" de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

Vamos fazer uma corrente via internet, repasse a todos os seus! Grata.


Vamos começar uma corrente nacional que pelo menos dê aos professores respaldo legal quando um aluno o xinga, o agride... Chega de ECA que não resolve nada, chega de Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e adolescente (capazes às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores, deve ser a carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados funcionais".

Pelo amor de Deus somos uma classe com força! Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer greves, vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize a profissão.

Vanessa Storrer - professora da rede Municipal de Curitiba!

Mesmo quem  não atua como docente, um dia passou por uma escola e tornou-se o que você é hoje! COLABORE E COMPARTILHE COM SEUS AMIGOS (AS).

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Lei de Responsabilidade Fiscal: o cais das desculpas e negativas das gestões públicas

Estava eu assistindo a um telejornal local ontem (02/05/2012) que falava sobre a greve dos educadores e educadoras do município do Natal. Na matéria, a repórter afirmava que não existira conciliação entre prefeitura e sindicato, visto que o secretário de educação afirmara categoricamente que não havia como dar aumento salarial à classe docente em virtude da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O mesmo argumento é usado pelo governo estadual para profissionais da saúde e agentes carcerários, só como exemplo. Essas justificativas pipocam hoje em dia nas bocas gestoras do poder público como argumento (ou desculpa) para não proporcionar melhores condições de trabalho e renda para muitas classes de servidores públicos. Claro, obviamente, que quando o aumento é para cargos de livre nomeação e políticos não se ressoam esses mesmos argumentos. Por exemplo, os detentores de mandatos legislativos aumentam seus subsídios quando bem entendem. Os magistrados, com sua grande influência e poder, também conseguem vultosos agrados em seus contracheques (merecidos, por sinal – todo honesto magistrado deve ganhar muito bem por ter uma função social de grande importância e responsabilidade – Mas só os honestos, tá?) e não se houve falar em limite de LRF. Alguém sabe quanto ganha um servidor do legislativo ou do Judiciário? Compare com os servidores do executivo. Compare com os salários dos professores estaduais e municipais! Bem, não vamos comparar nobres com plebeus, então.



Depois que a Lei Complementar 101 de 2000 foi aprovada tudo se justifica nela. A Lei em si é complexa, mal redigida, deixa margem pra um monte de interpretação e causa certa confusão, principalmente em leigos em ‘Direito’, como eu. Mas, no geral, a Lei foi pensada para por freios a péssimos gestores que desequilibravam todas as contas públicas e deixavam rombos financeiros em prefeitura e estados (principalmente) para os seus sucessores. Vamos imaginar aqui que, depois de promulgada a referida Lei, ingerências nas contas públicas não mais acontecem no Brasil – vamos fazer um enorme esforço para acreditar. “A lei inova a contabilidade pública e a execução do Orçamento público à medida que introduz diversos limites de gastos (procedimento conhecido como Gestão Administrativa), seja para as despesas do exercício (contingenciamento, limitação de empenhos), seja para o grau de endividamento”.
A LRF quase ensina como o (a) gestor (a) público pode ser um bom gestor ou gestora. Mas, para ser bem cumprida, tal dispositivo legal exige posturas das gestões municipais, estaduais e do governo federal, tais como: planejamento – aqui, supõe-se que seja aquilo que a gestão faz para que os impostos possam ser revertidos para o bem da população, como educação pública qualificada, segurança pública assegurada, lazer, estruturas adequadas das cidades (vide as vias públicas de Natal) e do campo, transporte público e saúde gratuita de modo descente e que atenda às demandas sociais -, equilíbrio nas contas públicas (óbvio), transparência (Relatórios, Prestações de contas). Ah, transparência! Palavrinha de difícil significado para os nossos políticos!
Em relação à transparência dos gastos públicos, a gestão atual da prefeitura do Natal é mestra em transparecer nebulosidades. A gestão verde sempre alega queda na arrecadação, mas não presta contas de quando arrecada tanto é que a justiça anda obrigando a digníssima gestora a prestar contas. “O juiz Geraldo Antônio da Mota, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Natal, determinou que a Prefeitura de Natal faça a imediata prestação de contas referentes a todo ano de 2011, devendo repassá-las ao Conselho Municipal de Saúde, no prazo máximo de 15 dias, contados da ciência da decisão judicial, sob pena de multa no valor de R$ 20 mil, que deverá recair sobre a secretária municipal de Saúde, Maria do Perpétuo Socorro”. (Tribuna do Norte, 25/04/2012). Por que não obedecem à LRF e fazem o dever de casa nesse ponto também? Já li reportagem, tempos atrás, que em matéria de transparência na prestação de contas e publicização das mesmas para o cidadão natalense, a gestão pública deste município deixa muito a desejar. E o problema dos aluguéis e contratos feitos pelo município, gerando até ocupação do legislativo municipal, acaso mostrar tudo em seus mínimos detalhes para toda a população, não seria também cumprir a LRF? Qual o problema de um gestor honesto mostrar para a população detalhadamente como realiza os contratos da administração pública? O dinheiro é de todos, não é? Ou não? Mas, sei que vem de todos.
A prefeitura é bem generosa com certas instituições. Dispensa valores bem generosos. Para quem vive alegando que a arrecadação caiu, é estranha essa generosidade toda. “O perdão de dívidas fiscais dado pela Prefeitura de Natal a instituições de ensino superior através da Lei 6.131/10 é inconstitucional. O pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte julgou ontem a ação direta de inconstitucionalidade do Ministério Público Estadual contra o quinto parágrafo do artigo quinto da lei, destituindo a anulação de 12 autos de infração que totalizam mais de R$ 72 milhões. Com o julgamento dos desembargadores, a Prefeitura de Natal está obrigada a cobrar dos devedores as multas aplicadas. O Município ainda não sabe se irá recorrer da decisão”. (Tribuna do Norte, 03/05/2012). Recorrer? Pense no seu orçamento familiar: se sua família está passando por uma crise financeira, você perdoa a dívida que o seu vizinho rico tem com você? A prefeitura perdoa, então, não deveria chorar lágrimas de crocodilo alegando falta de dinheiro e jogar nas costas da coitada da LRF o fato de ser negligente com a educação e seus trabalhadores e trabalhadoras, alunos e alunas e pais, bem como a saúde: Leiam sobre o Valera Santiago, pra não falar mais dos postos de saúde que viraram posto de escárnio e abandono.
O não repasse do que é devido à educação como foi mostrado em jornais e que até MP provocou o judiciário por descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta, tão noticiado pouco tempo atrás, seria uma forma de a prefeitura descumprir a Lei Complementar 101, provocando desequilíbrios financeiros à Secretaria Municipal de Educação? A merenda que sempre chega atrasada nas escolas (quando chegam, no caso do estado, chega vencida, conforme algumas denúncias nos últimos dias, vide também matéria do Fantástico da Rede Globo em maio de 2011), a farda que não é dada aos alunos há tempos e mesmo assim alardeada, a falta de estrutura, como bebedouros e ventiladores nas escolas, o não repasse do PDE não são mostrados ao público. Admira-me saber que essa gestão tão preocupada com a LRF, não alardeia seus “descuidos” também. Transparência! Vamos utilizá-la bem.
A questão de não se querer dar um mísero aumento à classe docente do município do Natal, tal qual faz o governo estadual com muitas outras classes de trabalhadores e trabalhadoras, ao meu tosco raciocínio, é resultado muito mais de uma prática malévola e, de certo modo, oligarca, dentro de um conceito de que as classes populares devam ficar sob o julgo de gestores e gestoras da administração pública, oriundos (as) das classes dominantes para que o poder se mantenha intacto nas mãos dos mesmos sempre. Nossa jovem democracia ainda terá que aguentar ainda por muitos anos essas figuras dominantes, nascidas, amamentadas, crescidas e criadas graças à miséria e ao caos estrategicamente provocado e aumentado por aqueles que deveriam representar os interesses gerais do povo, mas que passam longe desse propósito na concretude de suas ações gerais. “Da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana” (Nação Zumbi).

Livro de poesia: Na bacia das almas

NA BACIA DAS ALMAS, O SEGUNDO LIVRO DE POESIA DE VERIDIANO MAIA DOS SANTOS, ABORDA POEMAS SOBRE A CIDADE, SUA CONCRETUDE E SEUS SIMBOLISMOS...