Depois que a Lei Complementar 101
de 2000 foi aprovada tudo se justifica nela. A Lei em si é complexa, mal
redigida, deixa margem pra um monte de interpretação e causa certa confusão,
principalmente em leigos em ‘Direito’, como eu. Mas, no geral, a Lei foi
pensada para por freios a péssimos gestores que desequilibravam todas as contas
públicas e deixavam rombos financeiros em prefeitura e estados (principalmente)
para os seus sucessores. Vamos imaginar aqui que, depois de promulgada a referida
Lei, ingerências nas contas públicas não mais acontecem no Brasil – vamos fazer
um enorme esforço para acreditar. “A lei inova a contabilidade pública e a
execução do Orçamento público à medida que introduz diversos limites de gastos
(procedimento conhecido como Gestão Administrativa), seja para as despesas do exercício
(contingenciamento, limitação de empenhos), seja para o grau de endividamento”.
A LRF quase ensina como o (a)
gestor (a) público pode ser um bom gestor ou gestora. Mas, para ser bem cumprida,
tal dispositivo legal exige posturas das gestões municipais, estaduais e do
governo federal, tais como: planejamento – aqui, supõe-se que seja aquilo que a
gestão faz para que os impostos possam ser revertidos para o bem da população,
como educação pública qualificada, segurança pública assegurada, lazer,
estruturas adequadas das cidades (vide as vias públicas de Natal) e do campo,
transporte público e saúde gratuita de modo descente e que atenda às demandas
sociais -, equilíbrio nas contas públicas (óbvio), transparência (Relatórios,
Prestações de contas). Ah, transparência! Palavrinha de difícil significado
para os nossos políticos!
Em relação à transparência dos
gastos públicos, a gestão atual da prefeitura do Natal é mestra em transparecer
nebulosidades. A gestão verde sempre alega queda na arrecadação, mas não presta
contas de quando arrecada tanto é que a justiça anda obrigando a digníssima
gestora a prestar contas. “O juiz Geraldo Antônio da Mota, da 5ª Vara da
Fazenda Pública de Natal, determinou que a Prefeitura de Natal faça a imediata
prestação de contas referentes a todo ano de 2011, devendo repassá-las ao
Conselho Municipal de Saúde, no prazo máximo de 15 dias, contados da ciência da
decisão judicial, sob pena de multa no valor de R$ 20 mil, que deverá recair
sobre a secretária municipal de Saúde, Maria do Perpétuo Socorro”. (Tribuna do
Norte, 25/04/2012). Por que não obedecem à LRF e fazem o dever de casa nesse
ponto também? Já li reportagem, tempos atrás, que em matéria de transparência
na prestação de contas e publicização das mesmas para o cidadão natalense, a
gestão pública deste município deixa muito a desejar. E o problema dos aluguéis
e contratos feitos pelo município, gerando até ocupação do legislativo
municipal, acaso mostrar tudo em seus mínimos detalhes para toda a população,
não seria também cumprir a LRF? Qual o problema de um gestor honesto mostrar
para a população detalhadamente como realiza os contratos da administração
pública? O dinheiro é de todos, não é? Ou não? Mas, sei que vem de todos.
A prefeitura é bem generosa com certas
instituições. Dispensa valores bem generosos. Para quem vive alegando que a
arrecadação caiu, é estranha essa generosidade toda. “O perdão de dívidas
fiscais dado pela Prefeitura de Natal a instituições de ensino superior através
da Lei 6.131/10 é inconstitucional. O pleno do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Norte julgou ontem a ação direta de inconstitucionalidade do
Ministério Público Estadual contra o quinto parágrafo do artigo quinto da lei,
destituindo a anulação de 12 autos de infração que totalizam mais de R$ 72
milhões. Com o julgamento dos desembargadores, a Prefeitura de Natal está obrigada
a cobrar dos devedores as multas aplicadas. O Município ainda não sabe se irá
recorrer da decisão”. (Tribuna do Norte, 03/05/2012). Recorrer? Pense no seu
orçamento familiar: se sua família está passando por uma crise financeira, você
perdoa a dívida que o seu vizinho rico tem com você? A prefeitura perdoa,
então, não deveria chorar lágrimas de crocodilo alegando falta de dinheiro e
jogar nas costas da coitada da LRF o fato de ser negligente com a educação e
seus trabalhadores e trabalhadoras, alunos e alunas e pais, bem como a saúde:
Leiam sobre o Valera Santiago, pra não falar mais dos postos de saúde que
viraram posto de escárnio e abandono.
O não repasse do que é devido à
educação como foi mostrado em jornais e que até MP provocou o judiciário por
descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta, tão noticiado pouco tempo
atrás, seria uma forma de a prefeitura descumprir a Lei Complementar 101,
provocando desequilíbrios financeiros à Secretaria Municipal de Educação? A
merenda que sempre chega atrasada nas escolas (quando chegam, no caso do
estado, chega vencida, conforme algumas denúncias nos últimos dias, vide também
matéria do Fantástico da Rede Globo em maio de 2011), a farda que não é dada
aos alunos há tempos e mesmo assim alardeada, a falta de estrutura, como
bebedouros e ventiladores nas escolas, o não repasse do PDE não são mostrados
ao público. Admira-me saber que essa gestão tão preocupada com a LRF, não
alardeia seus “descuidos” também. Transparência! Vamos utilizá-la bem.
A questão de não se querer dar um
mísero aumento à classe docente do município do Natal, tal qual faz o governo
estadual com muitas outras classes de trabalhadores e trabalhadoras, ao meu
tosco raciocínio, é resultado muito mais de uma prática malévola e, de certo
modo, oligarca, dentro de um conceito de que as classes populares devam ficar
sob o julgo de gestores e gestoras da administração pública, oriundos (as) das classes
dominantes para que o poder se mantenha intacto nas mãos dos mesmos sempre.
Nossa jovem democracia ainda terá que aguentar ainda por muitos anos essas
figuras dominantes, nascidas, amamentadas, crescidas e criadas graças à miséria
e ao caos estrategicamente provocado e aumentado por aqueles que deveriam
representar os interesses gerais do povo, mas que passam longe desse propósito
na concretude de suas ações gerais. “Da
lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana” (Nação
Zumbi).
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