quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Minhas algumas inhas... Umas por vez!

Quem?
Quase sol, mas deixou eclipsar...
Quase lua, mas sem já alumiar...
Quase nada, mas criou o que ainda há...
Quase tudo, mas sem nada no lugar...
Quase vento, mas não se pôs a soprar...
Quase gelo, mas até veio a queimar...
Quase fogo, mas sem nunca fumaçar...
Quase seco, mas quis lacrimejar...
Quase chuva, mas sem gota pra molhar.

Era belo no meio de uma feiura...
Era esmero quedado ao que é descuido...
Era flor, mas só lhe faltava o galho...
Era espinho que nunca pensou ferir...
Era hoje que não tinha mais presença...
Era amargo embora, enfim, fosse doce...
Era embargo e não mais se declarou...
Era noite que não trazia o luar...
Era dia não mais nublado de sol.

Quis ser pedra e então amoleceu...
Quis ser brasa, mas o degelo esfriou...
Quis ser louco dentro da normalidade...
Quis ser dentro quando fora fez morada...
Quis ser muito e quis ser pouco também...
Quis ser menos, multiplicando a soma...
Quis ser lã quebrando cacos de vidro...
Quis ser fã se esquecendo do ídolo...
Quis ser outro num espelho distorcido.

Quase um, quase dois, quase ninguém...
Era meio, parte do que é inteiro em alguém...
Quis ser brando na tempestade que tem.
 _____

Andares meus do meu andar sofrível
Em andares de sentimentos e desconhecimentos
Construídos e desconstruídos em minh'alma
Andares circulares dos meus círculos imersos em contradições
Circulares de movimentos obtusos e pendulares
Que entre pólos circunscritos em mim
Doravante e sempre sobem e descem nos andares meus!

_______


Nem que toda aldeia fosse o universo inteiro
Entre muros e rebentações
Nem que idílicas ilhas se ancorassem às pontes
Entre linhas e suas bifurcações
Nem que isso estivesse no oposto daquilo
Entre marés de polo a polo de inversões
Eu deixaria de estar envolvido
Nos oceanos de minhas contradições.


_______

Soneto alegre

Crepito, irrito, e aflito disparo meu veneno
Amparo a quem embaraça as ilusões
Teço um fio imaginário, turvo, mas sereno
Numa vida que nunca estabeleceu padrões.

Quem desce a si mesmo não se esmaece
Mas, disputa uma guerra sem vencedores
De todos, excêntrico, quase se esquece
E apaga embevecido todos os pudores.

Reflexo de mim, espelho da alma
A angústia, que nunca me foi amiga
Irrita minha solene e altruística calma.

Que em tudo, desola-se trêmula e ferida
E aflita, crepita e espelha o trauma
Que permeia, endógena, a sôfrega vida.


_____

Escrevo meus poemas como quem salta pecados
Discorro meus dramas em sorrisos baratos
No momento das apresentações...
O prazer pode ser apenas uma incerteza!

Não há lugar vulgar, com preços módicos
Que eu não goste
Consigo transitar bem
Mas, somente, entre aqueles que desperdiçaram suas chances

Tenho debilidades amorosas
Que me chegam sem notícia de aviso prévio
Sou surpreendido de quando em vez
Pelo perigo do abismo que saltei - mas que está lá:
Chamando-me de vagabundo

Escrevo minhas crenças em linhas amargas
Das descrenças que me encerrei
Salto arranjos e esqueço frases de efeito
A assim, balbuciando frágeis alegrias
Escrevo meus poemas como se fosse um lorde.


_____
QUASE SEMPRE

levantar antes de deixar cair 
devagar insistir em ir em frente 
seria bem mais prudente melhor que o riso daquilo que não sente
diria o choro: - sou eu, presente!

e ela diz que vive querendo ir devagar quase sempre 
sem tempo nem pra chorar, quase sempre

dissolver os nós do ego que há em nós 
e perceber o lastro de estar no ser carente

seria se ausentar dormente 
pior que o medo daquilo que não entende 
diria a coragem: - sou eu, inconsequente!

e ele cala que morre querendo não ir quase sempre 
sem tempo nem pra sorrir, quase sempre

levantar devagar pra não cair 
insistir prudente quase a sorrir

não vai chorar ou vai sentir querer 
mesmo a coragem tem medo de também não ser 
estar, dizer: lá vamos nós!
 ______
O recanto parecia tão pequeno que no escuro acomodava-o.
E ele quando se agachava em seu recanto se sentia mínimo diante do universo em expansão.

Tudo girava ao seu redor como é conveniente girar.
Somente naquele recanto é que o estático estatuado permanecia parado, calado, escondido.
Ouvindo o som, o barulho...

Todos gargalham suas distorções e suas idiossincrasias absolutas.
Ninguém sabe o que acontece no lado secreto da província da alma do outro.

E se o recanto for bem recatado e o escuro que lhe cobre, discreto...
O som não chega e reina o silêncio desesperado com seu barulho infindável.
_______ 
Estrada!

Não digo que seja difícil, mas fácil certamente não o é,
Não à condenação, mas absolvição sem merecimento, não.
Caminhar, caminhar, caminhar...
Do início pouco sei e menos ainda do fim,
O que me interessa mesmo é o mistério que vem com o meio.
Caminhar, caminhar, caminhar...
Ser cais, ser mar, ser tempestade, ser brisa...
Nada ser – tudo estar! Construir, transformar, melhorar, insistir.
Caminhar, caminhar, caminhar...
Entre uma alegoria e outra, entre a pedra e a pluma,
Observar atentamente aquilo de que pouco ou nada sei.
Caminhar, caminhar, caminhar...
Do que me é caro e raro – saber instruir-me à gratidão da honra de ter,
Do que me é dolorido e falho – saber entender corajosamente.
Caminhar, caminhar, caminhar...
Até que tudo venha a parar com o som do silêncio,
Sem tempo, sem medo, sem andança, no doce segredo da paz.
Retornar! Recomeçar! Alcançar! Amar!
Caminhar, caminhar, caminhar...
______
INUSITADO 

Que seja tudo como tem de ser, quando se quer o estar (ter)
Mesmo sem querer ou saber
Que seja ventania, calmaria, brasa e gelo...
Sensação e apego
Que traga a paz na brisa da noite, na força do mar!
Desejo e certeza
Que seja terra, ar, vento, água, fogo e amar.
Pureza e intenção
Que façam uma prece e se apresse:
Aos ventos que surgem de todos os nortes
Que tragam aquilo que não sei que quero,
Mesmo querendo infinitamente, sem querer...
Que seja o que dure, o que pare, o que cale e mesmo assim
Que faça o maior carnaval!
 ______
Ontem, o caos;
Hoje, a calmaria;
Amanhã, o outro dia do outro dia de ontem e de hoje;
Esse sobe e desce;
Esse apequenar e crescer;
Caminhos, paradas, setas que apontam o que mesmo?
Essa gangorra chamada vida, às vezes, deixa-me tonto...
Às vezes!
 ______

Digam que vivi no tempo da barbárie;
No tempo em que poucos usurpavam de muitos;
Na era em que muitos se rebaixavam violentamente tal qual aqueles poucos.

Digam que vivi no tempo das injustiças sociais, políticas e culturais,
Que fui vítima e vitimizei a tudo pelas medíocres relações pérfidas de poder que exerceram sobre si um amargor e que exerceram sobre mim,
Que pessoas morriam pedindo socorro,
Gritando clamorosamente por uns que os enganavam mentindo e sorrindo,
Enquanto os filhos do poder se regozijavam na fartura da fartura.

Vivi no tempo da bonança que não chegava mesmo quando se sonhava o futuro.
Digam que presenciei a intolerância e a alienação mesmo quando se pensava que não.

Digam que vivi num tempo estranho onde a violência não era combatida com a paz,
No tempo em que sempre queriam mais...
E se vomitam mais: mais medo, mais brutalidade, mais ódio, mais...
Onde caminhavam dentro de uma individualidade puramente egoísta,
Disfarçada hipocritamente de coletiva...

Digam que vivi num tempo onde não se merecia viver.
 _______
Um dia para cada esboço
Quem vive a sonhar alvoroço
Verte, a intuir, segredos sem fim.
Neste mundo de fundos de poço
Que à lama nos faz conferência
Nos Desterra mazelas de si.
_______
 
Veridiano Maia

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