sábado, 15 de fevereiro de 2014

Come Back


Síndrome da porta e da janela fechadas

pois que é certo que me queixo
bem mais é certo que não deixo
de saber/gostar sentir...

feito pêndulo que discorre o seu caminho:
extremo esquerdo ou direito
mas que ao centro há de dormir

e ante todo o meu meandro
paro, ando e sigo um quando
indo e voltando a um mesmo 'se'...

entre querer/sair/entrar, ficar/partir/reinventar
entre explosões e outros silêncios
o meu discurso volta ao 'ti'

tão eloquente feito um segundo
ignoro o mesmo velho mundo
que desconstrói-me o tal porvir

Diano Maia.
SEM

Eu e essa página em branco (antes, o papel e a pena).
Pena.
Agora, computador (com a puta dor).
Esse cursor vai e vem como quem faz zombaria,
A luz na tela e suas imagens psicodélicas na retina...
... Dentro – mesmo modo – esses toscos pensamentos!
Sem ideias.
Dormentes, os sentimentos, 
Ausentes, os bons tempos.
Sem fruição que, atual, mente.
Sem poesia em meus dentes!
 
Diano Maia. 
Agora, essa tela cinza no ventre do horizonte.
Fiz-me na última dobra do sertão,
Portanto, não saberia te entender...
Logo você, cria da pancada do mar.

Diano Maia.
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Todo mundo sorri nas fotografias de mercado,
E eu fico nervoso com isso.
Sou avarento, preguiçoso e meio ateu!
Levado por infinitas neuroses cíclicas!
Escrevo meus devaneios no fundo de um balde sem fim,
Depois perco a esperança para reencontrá-la numa cerveja
Ou numa dose de Uísque barato...
Quero ser tantos; acabo não sendo nenhum!
Subo pouco e desço demais nessa gangorra da vida
Caindo e me levantando para cair...
Enfim, "sou" um...
"fragmento conduzido num turbilhão de poeira"
**
Fique firme na segunda, coragem!
Pinte as janelas e conserte o telhado na terça
Lave a alma na quarta e retire a impureza do pensamento na quinta.
Ajude o outro na sexta, trabalhe mais
Tenha prazer no sábado
Vá a uma igreja no domingo e reze
Eu rezo por você e por todos nós!
**
Curti a curtida que você deu da minha curtição,
Compartilhei o seu compartilhamento acerca daquilo que nunca é compartilhado
E, por vezes, esquecido.
Comentei o seu comentário 
ao comentar as destiladas venenosas dos comentários alheios.
E assim, vamos! Mas, para onde?
qual o tempo que resta? 
Faz quanto tempo que você não diz nada que outros já não disseram?
**
o mundo anda cada vez mais volátil
cadê as correspondências por cartas seladas?
elas já foram registros fundamentais da história em dado tempo
Aí, veio a ventania da nova tecnologia e varreu muita coisa pra obsolescência
depois, o e-mail que deixava as mensagens gravadas, em desuso (registro, se não apagar)
agora, tudo se perde na virtuosa concepção das sociedades das redes
quem lembrará de nós, então?
quem saberá de nossos registros como seres históricos?
quem saberá, no futuro, de nossa existência, sorrisos, ideias, amores, desilusões, medos e choros?
**
Enquanto você faz seus planos...
A coisa vai ficando complicada em algumas estações.
Às vezes, esse calor perturba o juízo de muita gente!
E o frio, como o bom diálogo, com sua brancura turva do universo,
É só um souvenir em imagens midiáticas.
Pessoas se agridem. 
Colegas que não se gostam também fazem da agressão
"Composição poética"
Enquanto você Sonha...
O mundo realiza desequilíbrios na sua lógica ordenada.
Ah, esse nosso tempo!
**
Enquanto você vive com seus conceitos e seus preconceitos
Enquanto você segue rígidas regras que inventaram para ti
Enquanto você domestica seus pudores e repressões sociais
Enquanto você julga e condena a partir das normas que te deram
A vida dobra a esquina, vai-se embora e sequer diz: tchau!
**
eu não preciso mentir, mas minto!
eu não preciso ser verdadeiro, mas, às vezes, sou.
eu não sou dissimulado, mas se fingir, e daí? 
ser sincero para o quê? Ser falso, por quem?
por que a verdade adianta a alguém? A quem ela serve?
a mentira, vez enquando, não tem muito mais valia?
eu não sou de carne e tampouco de plástico,
mas ambos, às vezes, um pouco!
Eu não preciso sorrir; não preciso chorar...
nem amor e nem ódio demonstrar
se, nesse mundo, atual, contemporâneo e virtual...
ninguém tá nem aí para aquilo o que você realmente é.
eu não preciso...
 
Diano Maia.
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No meu sonho você é
Realidade acordada
Eu,
Sono letárgico.

Mesmo quando acordado
Rodeio feito bicho do mato
Em sua tangência
E você, sem saber, é o diâmetro.

Porque se transfigura em meu centro?
Esse meu sonho maluco!

Diano Maia.
Timidez Barata

Quis, mas não soube dizer,
Disse, mas não tentou explicar,
Sonhou, mas não ousou acordar,
Acordou, mas resistiu em fazer.

Viu, mas não fixou o olhar,
Pensou, mas não pode entender,
Entendeu, mas não sentiu o que é ser,
Foi, mas insistiu no estar.

Esteve a viver devagar
Pouco disse e nada mostrou,
Escondeu de quem se sabia amar.

Mais um amor lhe escapou
Sumiu com o peso inconteste do ar
Então desistiu, implodiu e deitou.

Diano Maia.
SEM SENTIDO.

Seres transitam empurrados pelos ventos
Balançam entre diagonais dos tempos - perdidos e achados. 
A peneira da contemporaneidade
Separa tudo aquilo que pode deixar passar
O descartável – e há muito descarte!
Descartes ousaria geometrizar nossos dias numa analítica filosofia?

Rasgamos a bolha, agora temos dificuldade
Em juntar nossos pedaços de humanidade.

Picos de fervura esquentam o clima, 
Picadas de agulhas entorpecem o discernimento
Pessoas se entrecruzam e se travam – todas do lado de fora
Todas fragmentando a ilusão e os mistérios...
Linhas em nós cegos de preconceitos e mágoas transitáveis.

Seres se comunicam, mas não dizem nada.
Tecnológicos seres e suas técnicas de esvaziamento
O sentido do outro não é meu – incompreensíveis sentidos alheios!
Empilhados em caixas de concreto e megabytes.

Seres sorrindo na tela, surtando nas celas dos seus quartos.
Seres biônicos, eternos fugazes, bilíngues mordazes.
Mordaça imposta ao coração.

Seres ausentes na presença.
O outro é só aquele, aquilo...
Rodopiando na fúria do ciclone do hoje
Ah, esses dias pendulares que sobem e que descem,
Lama, grama, grana, céu e chão – o ouro e o tolo. 
Tudo. Nada. Todos. Ninguém. Aqui ou lugar nenhum estamos...

Mas, quem sou eu para falar de amor?

Diano Maia.
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Crianças, crianças!
Brinquem e curtam o dia de hoje,
Revelem seus amores escondidos, coragem!
Dê um 'eu te amo' de presente à outra criança
Faça uma surpresa
Sua preferida criança, aquela por quem seus sinos dobram...
Crianças, crianças!
Brinquem e curtam o dia de hoje,
E peçam a Nossa Senhora
Que apareçam as flores e compaixão entre todos nós:
- atores desta vidinha boa e besta.
Diano Maia.
Ela

Ela modificou toda textura de sua vida
Revirou seus medos e lambeu suas feridas
Costurou pedaços do seu louco coração
Fios entre fios remendando seu perdão

Ela se fez mais forte ao sangrar seus pesadelos
Quis destilar maldades, mas guardou os seus apelos
Buscou serenidade diante de outra descrença
Mastigou verdades para não cuspir doença

Ela renasceu em meio à desesperança
Esperou paciente para entrar em outra dança
Ensaiou seu texto, mas escreveu novo roteiro
Encenou vingança, mas buscou seu bem primeiro

Ela hoje é
Um brilho mais pungente
Não se deixa mais
Ser ilusão plangente
Ela hoje é
Muito mais mulher

Diano Maia.
Aos professores e às professoras!

E que ninguém mais cale com medo:
- a injustiça enxerga muito bem.
E que ninguém deixe a surdez tomar de conta
A ponto de ninguém mais ouvir sequer um conto.
E que o silêncio grite porque a dor espreita os corações renegados...
Que não seja prática missioneira
Porque ninguém quer ser santo.
E que deste dia em adiante
Seja o professor a voz do respeito
Mesmo a despeito de tanto equívoco e maltrato
E mesmo que seja o sonho da insônia
Se não for a docência estrada para a libertação
Que seja perdida a utopia e a ilusão
De onde a humanidade voa do cabo e se dana.

Diano Maia.
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desce ao poço dos fundos para
sugar gotas de equilíbrio
vez enquando
e na subida
arranha a garganta
com unhas de gata no cio
agora
é...
e nunca
autora das mesmas frivolidades
muda
surta, volta
entumece com paixão e fúria
desce ao fundo do corte
da alma
remenda o gasto porque
é preciso inspirar toneladas
de novas sandices
Diano Maia.
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quase sou correspondência
mensagem enviada sem destinatário
sem endereço para devolução
envelope sem selo, na sela
do portador romântico do século XIX
preso na cela do tempo

quase sou correspondência
carta escrita com pena sem tinta
papel branco, mensagem em branco
escrita monocromática
papel de carta perdida
tinta de pena sem cor
quase sou correspondência
quase sou, quase vou, quase voo...
Diano Maia.
Coça a moleira essa unha grande do indicador:
Unha de tocar violão mal tocado. Unha traquina.
Que Cutuca até topar no último fio de juízo:
Juízo torto de fio sonhador;
Juízo rarefeito que bambeia entre a atmosfera e o vácuo.
Às vezes respira, às vezes suspira, às vezes se estatela no barro:
Barro duro, barro seco, barro empoeirado com o solo do meu andor.
As vezes infindas da dor, quando coço o juízo com a unha do indicador.
E quando cutuca demais, o juízo tenciona a gritar:
- unha, pare de me ferir que eu preciso amar!

Diano Maia.
Esqueça
Deixe ir
E pare...
Vá atrás
Mas, abstraia.
Lembre
Apegue-se
Ande com
Volte 
Realize.

Saiba
Antes
Refinadamente 
A hora de sair.
Diano Maia.
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Não ponha seu quebranto em minha torpeza
Ela só precisa de mim para bem resistir evidente
E não precisa apontar o quanto há
Infringentes embargos em mim
Nunca coerentes uns com os outros, distante de unanimidade.
Porque minha psique é uma, mas subdivide-se em várias (des)unidades
Um sopro, um alento, das sombras a alma a zangar e a alegrar.
Não queira minha torpeza em seu quebranto porque, do contrário,
Pode haver mais perdição do que é necessário numa só vida...
Diano Maia.
Pensando em Cazuza hoje.

Bete já não balança, perdeu a agilidade.
Pra viver não é preciso mais ideologia
Hoje em dia
Os ratos saíram da piscina
E estão espalhados por toda a casa.
Por toda exagerada burguesia
Há moinhos de ventos a soprarem
Os poetas para debaixo das overdoses
Dos heróis mortos e esquecidos.
Há tanto codinome para esconder o amor
Que nem inventando que não existe dor
Há chance para nós, bichos acuados, beijarmos o beija-flor.
E, atualmente, nesta festa pobre,
De armas e de homens tentando convencer
De que não há mais razão para pedir piedade
Eu rogo piedade, Senhor:
- Que Bete volte a balançar, por favor!

Diano Maia.
Costuramos retalhos de nós
Com mãos de cortar barbante...
Arrastamos às arestas cada ponto e cada fio
Fio a fio das pontas...
................................. imponderáveis
Para um tecer inconstante de nós 
Cada eu simbólico subtrai a si com a imagem que o outro produz
Faces tangentes,
......................... tesouras inclementes
Retalhando em sobras as nossas bagagens de dores e de sonhos.

Diano Maia.
Apressadamente aparento
Parecer pequeno
Anônimo em meio a todo mundo.

Aparentemente sou mais ontem do que amanhã
Quando me refaço hoje
Na roda das quinquilharias diárias.

Serei eu ínfimo diante do universo?

Aparentemente anuncio o meu turbulento duvidar
Sobre as lógicas e os alheios olhares dos quais não participei
De quem me percebe tarde demais.

Apressadamente rascunho devaneios e elucubrações
Ligeiramente tingido de rubro nas faces tímidas
Mas, tento decifrar prazer e dor.

Avidamente canto meus tortos anos
Andando em volta de mim
Perplexo com o que sou capaz de não ser.

Diano Maia.
E se parir meu destino
Não aborte meus segredos
E se arrotar meus medos
Não vomite minha ânsia amadora
E se rasgar minha alma
Remende-a com papel de seda
E se cuspir meu olhar
Não costure meu sorriso
E me fizer aridez
Não roube as nuvens de mim.

Diano Maia.
Seguro o segundo nu
Um secundário mínimo instante
Preso, doravante, em brandos curtos passos.
Refaço o traço, acomodando o causticante cansaço 
Esse embaraçoso e peado ardor de mim.

Solto o desconforto sob a pichada burca
Que reveste a esperança infante
Perdida e destronada de seu tempo.
Rasuro ideias vencidas (entre parênteses)
Desperdiçando tempo revogado do rabisco ao fim.

Diano Maia.
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Soneto torto

Que se dane o mundo a fazer outras loucuras
Sem pudores e sem mesquinharias
Que siga o contrafluxo de seus giros atuais
Rodopiando ao contrário para tonto não ficar.

Que inverta a ordem e tire tudo de lugar
Deixe dessa apreciação barata de si (lógica mentecapta de pensar)
Que use, daqui por diante, a ilógica (passe a sentir a dor do outro!)
Pois, sua meia irmã está dormente.

Não há anjos aqui ou inocentes (vulgares ou sofisticados)
Que não possam ver que não possam ouvir
Os berros insanos do mundo, sua pornografia, sua nudez vestida.

Que o juízo do mundo venha para os pés
Que autentique outras insanidades
Pois, as de hoje em dia, passaram do prazo de validade.
Diano Maia.
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a água molda-se ao caminho
a água entorta-se, curva-se, mas também faz seu caminho
desce
nunca inflexível, nunca em linha reta
desafia a terra, o vento
encontra o fogo
esquenta
evapora-se na batalha
para vencer a guerra quando cai do alto
com força, cai
mas
inunda tudo, encharca todos
enche-se de si, nos outros,
afoga o seco, molha o queimado
arrasta todos consigo, apaga o fogo, esfria o vento
amolece a terra
reordena os caminhos, ocupa os espaço quando cai, quando desce
abre fronteiras
a água não tem forma,
a água tem todas as formas,
a água salva, a água mata,
equilibra e desequilibra os meios
vida e morte,
desce se transforma e sobe para vir com mais força
a água, penso eu, é a mais louca dentre nós.
Diano Maia.
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Para Yoko Uno e outras mais.

Ono, Yokizou-se pelas balas do rei,
Enquanto John dormiu o sono plebeu.
Hoje, abalada no ostracismo dos anos,
Não é difícil nada fazer,
Nada para matar ou morrer... 
Imagine um só povo!
Mas, o WikiLeaks disse que não dá pra ser.

Já se dizia à Caetaneana filosofia
Que o amor é cego, o amor é cego!
E hoje em dia quase ninguém
Enxerga mesmo muito bem.

Bhutto, Benaziando assumiu o poder,
Era uma vez, você se vestia tão bem,
Você é o meu brilho do sol,
Enquanto homens atrozes torciam o nariz.
Vencida, ofegante, sofrida, calada...
Rawalpindi viu o seu corpo cair.

Já se dizia à Cazuzeana ideologia,
Fede a burguesia, a burguesia!
E hoje em dia quase ninguém
Ousar ser de outro alguém...

Penha, Maria foi só mais uma vítima,
Da grande milícia do mundo patriarcal.
Eu não sei como você foi distraída
Enquanto minha guitarra suavemente chorava
Oprimida, humilhada, medida, desrespeitada,
Mas, em certos sistemas isso tudo é normal.

Já se dizia à Russeana mitologia
Que ‘dois’ seria intuição, intuição!
E hoje em dia quase ninguém
Compõe canção do amor de alguém.
Diano Maia.
______________________________________________________
Quero amarrar o meu ventre em tua espinha
E fazer festa e prosa no possível desflorar
Alicerçar a flor do meu coração
À flor do espinho que se fizestes. 
E mesmo a espetar-me, que seja amor enquanto dor
Que dure o tempo necessário - do sorriso aos 'ais'.

Quero prosear em tua rima
Subir para cair por cima
Descer para voar por baixo
Quero amarrar segredos meus
Em teus versos nus
E, assim, escalar meu discurso 
No rumo do teu beijo casto.
Diano Maia.
___________________________________________________________
Homo Sapiens

abomina o equilíbrio
desequilibra o desperdício
aproveita o tempo e pare dor
range os dentes e mastiga as estações
cospe trapos desdenhados de amor
sangra a aurora da flor do tempo
vilipendia o sorriso do ocaso
maltrata o acaso indecifrável
some
rasteja
pisa a bagunça que está no vento
sobe
aparece
desconcerta a presença da vida
repudia a presença da morte
causa a morte
ri
chora
morde
assopra
bebe os próprios traumas
vomita o nervosismo do rosto
cala
grita
come a tristeza e tosse alegria efêmera
provoca a solidão
foge da solidão...

...e numa espiral eloquente
passeia por sua história tão mal contada.

Diano Maia.





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