quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sacrificar a cultura faz bem para o retrocesso político

As discussões a cada dia ficam tão rasteiras que às vezes tenho um temor...

Essa discussão sobre o fim do MinC deveria ser desnecessária porque qualquer ser humano que se diga pensante sabe o quanto é importante políticas culturais para a afirmação de uma nação enquanto povo com suas interculturalidades; e, no Brasil, mais ainda devido à nossa complexa pluralidade cultural. Têm uns idiotas país adentro que acham que o MinC só serve para dar dinheiro a artistas famosos (será?). Ô povo leso e sem noção. 

As leis para captação de recursos (incentivos) para filmes e espetáculos artísticos de toda ordem estão em vigor faz tempo (na federação, nos estados e municípios) e servem para famosos artistas/produtores culturais ou não. Estão aí. SÃO LEIS!

Mas, esse povo bestializado que não vê importância no MinC esquece que é preciso se fortalecer manifestações culturais de matriz africana, indígena, das manifestações das tradições regionais, locais e nacionais, dos guetos, das periferias, da cultura erudita seja nas artes ou sejam nas representações plurais de nossa gente em seus espaço/tempos comunitários cotidianos.

Quem atua na cultura e trabalha sob o viés puramente mercantilista - que produz eventos e lucra com sua legítima e árdua atividade - talvez as leis de incentivo bastem e não precisem de ministério. Ok! Dentro da cultura existem múltiplas formas de atuação e cada um se posiciona e atua como sabe e lhe convém.

Mas, para todo um outro complexo contexto de identidades culturais espalhadas em grupos diversos e excluídas da grande mídia (da fama e da grana do mercado), que sobrevivem da vontade do mestre de cultura (por exemplo), dos artífices, dos artesãos, dos pontos de cultura, etc... estes precisam e têm direito a um ministério forte e atuante no campo da cultura que lhes garantam políticas de estado, sim!

O fim do ministério não é à toa. É uma posição política demarcada contra os avanços e empoderamentos dados aos grupos mais distintos e diversos - principalmente a partir do Cultura Viva - e só os inocentes, idiotas e/ou cínicos não sabem disso ou negam mesmo sabendo. Em nada tem a ver com orçamento ou gastos eloquentes (pois o MinC nunca os teve como seria necessário).

O meu temor é que num país em que a cultura é sempre a primeira a ser sacrificada (em tempos de crise ou em tempos obscuros), a farsa e a bestialização de uma minoria preconceituosa e ignorante (que desconhece o poder da cultura na afirmação de um povo ou sabe tão bem desse poder que reside nos grupos e agentes de cultura [anônimos] que o quer barrar) ganha reverberação em nosso atraso enquanto civilização, enquanto avanço no reconhecimento de direitos dos povos dessa nação. Como a educação nunca foi de fato prioridade para ninguém na história do Brasil, golpear também a cultura de forma tão vergonhosa é só mais um passo à frente para os mil passos atrás que se quer dar nestes tempos de atrofia mental da tradição conservadora.






imagem - fonte: pronatec.blog.br

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