"Tão Jovens..."
Assistir ao filme ‘Somos tão
jovens’ que trata do início da carreira musical do Renato Russo me fez ver que
eu não sou mais tão jovem assim (ô, novidade!). Ao lado de meu filho de 14 anos
e de minha sobrinha de 12, passou-me uma sensação desgraçada de que os meus
desvarios juvenis não morreram, mas também não estão mais em mim e, se estão, devem
estar perdidos no limbo de alguma galáxia muito distante que se encolhe dentro
do meu universo real, paralelo ou bipolar.
Agora, vejo o modelo sonhador
que busca mudar o mundo pertencer aos meus jovens companheiros de cinema (e a
tantos outros que estavam na sala): de almas roqueiras, camisetas pretas de
bandas preferidas, e aquele brilho instigante, vibrante, suspirante, raro no
olho. Brilho este que, somente ele, é capaz de abrir a janela da alma de uma
pessoa no exato momento em que brilha e mostrar o lado mais lindo de qualquer
pessoa: o lado desarmado e indefeso, que somente se dedica a se encantar com as
ilusões e com os desejos.
Vendo o filme, relembrei-me
num passado tão remoto quanto eu. Vi-me de volta, lá, no tempo em que eu era
ainda criança sonhadora, de brilho no olho e viola meio desafinada na mão.
Pensei o quanto eu queria ser diferente e como me tornei diferente da diferença
que eu queria ser, feito de pedaços de vitórias e derrotas, meio neurótico com
as horas e os segundos, meio burocrata no momento em que a fatura do cartão
chega e quase um ‘pseudo’ burguês sem ideologia, mas fundamentado no caminho
percorrido. Mas, isso é mesmo ser diferente ou não é?
A história de Renato Russo
todo fã conhece. Mas, ver o filme para quem tem mais de trinta traz a nostalgia
(des)agradável dos 16. E essa sensação traz um alento desalentador do quanto
poderia ter sido, o quanto não foi, o quanto foi realizado sem se quer se saber
que o seria: mitologia e intuição!
Para meu filho e para minha
sobrinha e tantos outros filhos e sobrinhas que são “netos e netas” de Renato
Russo, o filme corrobora para aumentar a expectativa e contribui para dar o pontapé
necessário para que se estabeleça definitivamente o início da brincadeira dos
sonhos a serem perseguidos; revigora e eleva a alma a campos altos, bonitos e
bem musicados. Quem passou do prazo de validade para dar asas aos sonhos em abundância
em detrimento da vida real, cotidiana e grotesca na maioria das vezes, traz a
impressão de que o sonho não acabou, mas transferiu-se para outra repartição ou
hiberna esperando a próxima encarnação.
De qualquer forma é sempre
bom relembrar porque é o saudável exercício lembrar de novo algo que você sabe
que pairou em você, que esteve lá. E, enquanto o filme roda dá até pra voltar
um pouco e saber quais eram os nomes do algo, do alguém, do lugar, do sonho. O
ruim é saber que o que existe mesmo é uma fotografia amarelado em sua alma e que
no fim do filme outras demandas mais atuais estão te esperando, aliás, sentadas
em seu colo esperando o cinema acender as luzes para exigirem a nossa energia e
concentração. De todo modo, vale a pena ir assistir “Somos tão jovens”, de
preferência com uma penca de jovens ao redor.
Tava muito ansiosa pra ver o filme! Tirando a atuação caricata do cara que interpreta o Herbert (ri muito!), o filme é lindo. Força Sempre!
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