Cresci com a máxima de
que o judiciário deve ser imparcial. Que o Ministério Público (MP) também deve
se pautar por essa mesma máxima em defesa dos direitos sociais e individuais
indisponíveis. Entendia que agentes públicos do poder judiciário e membros do
Ministério Público não deveriam agir por inclinações partidárias ou de ideologias
para que assim pudessem ser o fiel da balança no sentido de ser ter um estado
democrático de direito mais equilibrado e menos injusto. Acho que passei anos
sem ver um magistrado ou promotor público se exporem no cotidiano de nossas
vidas, até recentemente. Hoje temos celebridades premiadas!
Agora, vejo juiz dar
palestra em evento de partido político ao mesmo tempo em que coordena ações
judiciais onde partidos rivais estão implicados (embora aqueles também – mas,
não vem ao caso pra certa parcela da justiça). Coincidentemente, por meio da
ação de uma força da gravidade relativa, percebo a balança cega da justiça pender
mais para um lado e bem leve (subindo) para o outro. Fulano disse que Sicrano
fez! Investigue-se e condene-se logo (pelo menos pela a opinião pública)!
Beltrano disse que outro também fez, mas, é melhor deixar quieto que não
importa à cega justiça (nesse ponto, surda também).
Ouvi dizer que a
justiça deve se pautar por equilíbrio e de acordo com a lei de forma justa e
serena. Como diz uma tal Constituição Federal/CF1988 (em vigor?) que ninguém é
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
imaginava que a espetacularização midiática seletiva de denúncias e vazamentos
suspeitos seriam coisas execráveis para a justiça (condenáveis e combatidas). E
são! A depender do lado que aponta a denúncia.
Existem coisas que eu
não entendo nessa jovem democracia brasileira de história tão mal contada: a
depender de onde esteja politicamente ancorado, o sujeito pode ser considerado
perigoso para parte do MP se ele for capaz de se reunir e/ou mobilizar pessoas
que pensem como ele no jogo político. Passíveis de prisão, até me contaram. Mas,
se for de um lado diferente, pode mobilizar, contratar carros de som,
padronizar camisetas, fazer propaganda com ajuda de certos políticos e das
mídias, e ir para as ruas. Pode gente que é funcionário fantasma cobrar e se
indignar nas ruas para combater a corrupção. Pode político que foi denunciado
no STF ou político que já foi comprovadamente corrupto e condenado (como certo
político da Paraíba) ou mesmo certo líder que já foi delatado mais de uma vez
na mesma operação anticorrupção convocar às ruas pessoas para lutarem contra os
corruptos denunciados na tal operação (a depender do lado). Sem problema porque
a CF/88 permite a livre manifestação. Embora ela não seja seletiva, parte dos
agentes que compõe o sistema judiciário brasileiro interpreta que a carta maior
é seletiva sim. E a depender do lado em que estiver o caboclo, ele pode ser
perigoso porque pode se manifestar.
O ‘ouvi dizer’ virou
prova, o ‘quase fez’ virou julgamento, o ‘indício’ virou condenação. A depender
do lado político, não nos esqueçamos desse fator importante! O que deveria ser
comum a todos não pode ser porque é crime. O bom mesmo é a exclusividade: seja
da proteção, seja da investigação ou perseguição! Não sei se essa interpretação
cheira a um explícito ato de perseguição em virtude de correntes políticas e/ou
ideológicas. Mas, parece?
Penso que devemos
buscar justeza das coisas para que se façam as tais coisas de forma correta.
Quem infringe a lei ou comete crime deve ser denunciado, investigado (se
possível de forma imparcial), com direito ao contraditório e à ampla defesa, e
depois - se provado e comprovado a culpa - que seja condenado e punido! Isso não
deveria valer para todos? Não era isso que o sistema jurisdicional cego deveria
se pautar a partir das leis o tempo todo e por todos os seus membros?
É permitido dizer em
revista pública que vai fazer isso e aquilo, dando sentença de alguém que está
sendo investigado já é culpado? Pode membro do MP sair em manifestações
públicas antagônicas a determinado líder político e esse mesmo membro ser
normalmente o seu denunciante dentro do nosso sistema normativo da justiça? Pode
fazer palestra em abertura de evento de uma ala partidária contrária (porém,
também deletada) e investigar palestra? Pode! Embora, não pareça ser ético ou
isonômico.
Não pode assumir cargo
no executivo sendo membro do MP! Certo! Perfeito! É a lei! Mas, pode ser membro
do MP e fazer ação no exercício da função que cheira a partidarismo político (não
importando se a substância da acusação está consistente e verossímil de forma incontestável)
e inclusive manifestando-se contra políticos A e B. Não pode se defender
publicamente de acusações (a depender do lado). Mas, pode acusar (a depender do
lado) e julgar nas ruas, nas mídias, nas instituições... Falar mal! Caluniar!
Deturpar!
Fico pensando que isso
abre uma brecha perigosa. Imagina quando outro grupo político assumir o poder
e, se existirem promotores e juízes tendenciosos à ala substituída resolverem
perseguir também. Acusar sem provas concretas, vazar informações, criar a
espetacularização contra quem possa estar no poder... Quem, dos que agora se
arvoram de indignados políticos e loucos para ganhar uma eleição imaginária
pelo voto do judiciário, poderá reclamar dessas práticas? É o futuro? O país
vai ser assim a partir de agora? Se quem for oposição a determinado governo
cria suas coisas e, mesmo sem a materialidade da responsabilidade criminosa do
governante, busca-se impedi-lo! Por quê? Porque não se gosta dele! Porque se
perdeu eleição no voto popular!
Só sei que o futuro
parece estar cada vez mais incerto e obtuso. Sei que pessoas estão cada vez
mais odiosas e travestidas de julgadores (justiceiros de plantão com suas
intolerâncias de toda ordem). Sei que existem interesses que parecem perpassarem
as fronteiras da nação. Estamos jogando um jogo complicado e preocupante. Ações
e reações imprevisíveis e que podem causar danos que durarão muitos anos. E sei
que tudo que é atirado pode voltar-se contra o atirador! Espero que se encontre
o equilíbrio e sensatez para o bem do Brasil e de sua tensionada democracia.
* imagem: artedopo.blogspot.com
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