O golpe se espalhou entre muitos
brasileiros pelo caminho do ódio. Ódio pela corrupção? Não! Ódio a um partido
político, o PT, que tem suas falhas e erros que precisam de correção. Mas, não
importa a lista de corruptos em todos os níveis da política brasileira, nos
municípios, nos estados, no Congresso Nacional, nas Câmeras Municipais, nas Assembleias...
Na corrupção privada. Importa a corrupção do PT (que deve ser apurada e punida como nos demais partidos) e que "deixem as outras em paz". E,
assim, perdemos uma excelente oportunidade de passar o país a limpo de forma
verdadeira e honesta, com reforma política profunda e mais racionalidade para
se projetar o futuro da nação e resolver nosso presente de forma crítica e
ponderada.
Mas, o ódio que sempre esteve
presente em muitos aspectos da vida do povo brasileiro (seja pessoal ou coletivo), é o
mesmo que ainda se ressentem no juízo de pessoas que dão fé a muitos
atravessamentos históricos que nossa pátria teve que passar – colonialismo,
submissão aos grandes capitais de fora e suas ingerências, golpes e mais golpes
na nossa democracia tão mal contada.
Nossa jovem democracia não
consegue lidar bem com o contraditório, com o pensamento diferente e com a
pluralidade de ideias – pois, nosso povo não foi criado social e culturalmente
para debater ideias, foi consagrado para debater... Pessoas. Ela, por força
hegemônica, ainda teme em respeitar aquilo que põe em questão sua formação
opressora branca, meio preconceituosa e machista. Quando dói o calo, esse poder
hegemônico corre para se defender, atacando por meio de um ódio sem sentido
tudo aquilo que julga ser contrário aos seus desejos e vontades.
Mas, como disse antes, esse ódio
sempre esteve presente no cotidiano do país, nas pessoas. Em alguns momentos,
tirou um cochilo para restabelecer as forças. E desde o Brasil colônia que é
assim que a banda toca: casa grande contra a senzala; o rico querendo seu
quinhão a mais do pobre; o sudeste negligenciando o nordeste ou oprimindo-o; a
educação pública colocada em esquecimento quando os abastados financeiramente criaram
as escolas particulares; e quando a saúde pública fora entorpecida pelos planos
privados de atendimento hospitalar; etc, etc...
E esse ódio se traduz fora dos
holofotes da política, da fina camada elitista e branca dos grandes condomínios
de luxo e suas megaempresas. Está no dia a dia, nas casas, nas ruas... Está no
primado do patriarcado da família tradicional, na opressão aos filhos e filhas
homossexuais; está na violência contra a mulher e a opressão violenta dos
maridos e companheiros que muitas vezes veem suas esposas e companheiras como
suas propriedades e não como seres humanos de vontades próprias e de direitos;
está no “sabe com quem está falando?”; está no trânsito e na inveja do
vizinho... Está na ignorância de nossos espíritos embrutecidos e arrogantes! O
ódio está presente na falta de autorreflexão e na facilidade que se tem em
apontar para os erros alheios e não se saber reconhecer as próprias falhas que
todo ser humano carrega dentro de si.
Somos um povo míope e bárbaro em
muitas oportunidades cotidianas. Não valorizamos a vida em sua plenitude de
várias maneiras. Ansiamos mais o poder e o dinheiro do que o amor e a paz. Desrespeitamos
a vontade dos mais [supostamente] fracos e violentamos a vontade que nos é
contrária em nossa tresloucada necessidade de controle e poder, pois somos –
culturalmente – criados para sermos implacáveis contra quem desafia nosso modo
patriarcal e de dominação sobre nossas “posses humanas” que julgamos nos pertencerem
como se objetos fossem (de empregados a familiares, de amigos a cônjuges, etc).
Assim, a ameaça, a violência, a
intolerância, o machismo, a indignidade, a opressão sobre mulheres, crianças,
idosos, minorias, dão o tom de nossa valentia e desproporção na medida das
coisas e das análises da vida. O ódio intransigente ao PT, por exemplo, é o
resultado da mesma benevolência negligente com os outros partidos corrompidos
desde sempre. E assim, tanto na política rasteira, quanto na vida social e
familiar, vamos sendo arrastados para a idade média porque não sabemos aceitar
que a humanidade já chegou ao século XXI. Desse modo, boa parte de nossa gente,
que se acha proprietária eterna da razão e dos bons costumes, teima em não
querer aceitar mudanças progressistas e as ideias divergentes. O Brasil é o
país do futuro! E da hipocrisia também. E assim, caminhamos em direção ao caos
e à infelicidade pessoal e coletiva em nome de um ódio cego.
Imagem 1: fonte - observatoriodaimprensa.com.br
Imagem 2: fonte - www.jornalcidademg.com.br
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