segunda-feira, 28 de março de 2016

O gosto pelo ódio!


O golpe se espalhou entre muitos brasileiros pelo caminho do ódio. Ódio pela corrupção? Não! Ódio a um partido político, o PT, que tem suas falhas e erros que precisam de correção. Mas, não importa a lista de corruptos em todos os níveis da política brasileira, nos municípios, nos estados, no Congresso Nacional, nas Câmeras Municipais, nas Assembleias... Na corrupção privada. Importa a corrupção do PT (que deve ser apurada e punida como nos demais partidos) e que "deixem as outras em paz". E, assim, perdemos uma excelente oportunidade de passar o país a limpo de forma verdadeira e honesta, com reforma política profunda e mais racionalidade para se projetar o futuro da nação e resolver nosso presente de forma crítica e ponderada.

Mas, o ódio que sempre esteve presente em muitos aspectos da vida do povo brasileiro (seja pessoal ou coletivo), é o mesmo que ainda se ressentem no juízo de pessoas que dão fé a muitos atravessamentos históricos que nossa pátria teve que passar – colonialismo, submissão aos grandes capitais de fora e suas ingerências, golpes e mais golpes na nossa democracia tão mal contada.

Nossa jovem democracia não consegue lidar bem com o contraditório, com o pensamento diferente e com a pluralidade de ideias – pois, nosso povo não foi criado social e culturalmente para debater ideias, foi consagrado para debater... Pessoas. Ela, por força hegemônica, ainda teme em respeitar aquilo que põe em questão sua formação opressora branca, meio preconceituosa e machista. Quando dói o calo, esse poder hegemônico corre para se defender, atacando por meio de um ódio sem sentido tudo aquilo que julga ser contrário aos seus desejos e vontades.

Mas, como disse antes, esse ódio sempre esteve presente no cotidiano do país, nas pessoas. Em alguns momentos, tirou um cochilo para restabelecer as forças. E desde o Brasil colônia que é assim que a banda toca: casa grande contra a senzala; o rico querendo seu quinhão a mais do pobre; o sudeste negligenciando o nordeste ou oprimindo-o; a educação pública colocada em esquecimento quando os abastados financeiramente criaram as escolas particulares; e quando a saúde pública fora entorpecida pelos planos privados de atendimento hospitalar; etc, etc...

E esse ódio se traduz fora dos holofotes da política, da fina camada elitista e branca dos grandes condomínios de luxo e suas megaempresas. Está no dia a dia, nas casas, nas ruas... Está no primado do patriarcado da família tradicional, na opressão aos filhos e filhas homossexuais; está na violência contra a mulher e a opressão violenta dos maridos e companheiros que muitas vezes veem suas esposas e companheiras como suas propriedades e não como seres humanos de vontades próprias e de direitos; está no “sabe com quem está falando?”; está no trânsito e na inveja do vizinho... Está na ignorância de nossos espíritos embrutecidos e arrogantes! O ódio está presente na falta de autorreflexão e na facilidade que se tem em apontar para os erros alheios e não se saber reconhecer as próprias falhas que todo ser humano carrega dentro de si.

Somos um povo míope e bárbaro em muitas oportunidades cotidianas. Não valorizamos a vida em sua plenitude de várias maneiras. Ansiamos mais o poder e o dinheiro do que o amor e a paz. Desrespeitamos a vontade dos mais [supostamente] fracos e violentamos a vontade que nos é contrária em nossa tresloucada necessidade de controle e poder, pois somos – culturalmente – criados para sermos implacáveis contra quem desafia nosso modo patriarcal e de dominação sobre nossas “posses humanas” que julgamos nos pertencerem como se objetos fossem (de empregados a familiares, de amigos a cônjuges, etc).

Assim, a ameaça, a violência, a intolerância, o machismo, a indignidade, a opressão sobre mulheres, crianças, idosos, minorias, dão o tom de nossa valentia e desproporção na medida das coisas e das análises da vida. O ódio intransigente ao PT, por exemplo, é o resultado da mesma benevolência negligente com os outros partidos corrompidos desde sempre. E assim, tanto na política rasteira, quanto na vida social e familiar, vamos sendo arrastados para a idade média porque não sabemos aceitar que a humanidade já chegou ao século XXI. Desse modo, boa parte de nossa gente, que se acha proprietária eterna da razão e dos bons costumes, teima em não querer aceitar mudanças progressistas e as ideias divergentes. O Brasil é o país do futuro! E da hipocrisia também. E assim, caminhamos em direção ao caos e à infelicidade pessoal e coletiva em nome de um ódio cego.


Imagem 2: fonte - www.jornalcidademg.com.br

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