sexta-feira, 22 de março de 2019

Democracia e Representação: discutindo os números da eleição/2018


Ao olharmos conceituações sobre democracia representativa por meio de uma simples consulta ao Google, encontramos resumos que dizem de modo geral que: este modelo de democracia, também chamado de democracia indireta, é uma forma de governo em que o povo elege representantes que possam a defesa, a gerência dos anseios populares, estabelecendo e executando os interesses da população. A principal base da democracia representativa é o voto direto, ou seja, o meio pelo qual a população pode apreciar todos os candidatos escolhendo, assim, seus representantes.

Os representantes eleitos através do voto podem ser vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e presidente. Teoricamente, a função das pessoas que foram eleitas é representar os direitos e interesses daqueles que os elegeram, já que a Constituição Federal vigente afirma que “O PODER EMANA DO POVO”, no entanto, muitos exemplos de sistemas democráticos pelo mundo mostram que a relação entre os representantes e a população é bastante questionável. Já que “democracia” é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo. A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal.

Mas, ao analisarmos os dados da eleição de 2018, é possível afirmar que pelo sistema de votação vigente nossos representantes são realmente o resultado do desejo da maioria dos aptos votantes e, para além do pleito, a maioria da nossa população? Parece que sim (a respeito dos votos validados), mas isso pode ser bem relativo da perspectiva de aprovações de políticas e leis que mexem com a vida do cidadão (brasileiro, no caso); assim, a resposta pode ser um não.

Óbvio que os que foram eleitos de acordo com as regras do jogo eleitoral estão legitimados ao exercício da representação democrática, seja no executivo, seja no legislativo. Mas, voltando para a vida além dos períodos dos pleitos, nossos dignos representantes políticos poderiam se enclausurar em suas bolhas políticas, esquecendo o bem geral da população, decidindo nosso destino coletivo só porque eleitos foram?

Notemos o Brasil se compõe entre os que estavam aptos à votação, os que não optaram por votar ou não votaram em ninguém, como branco-nulos; e, aqueles que não estavam aptos ao sufrágio universal em 2018, por exemplo. Como decodificar a complexidade que se encontra presente nos diferentes grupos sociais, suas classes, lutas, vontades, não é uma tarefa das mais singelas. Nisto, poderemos dar um desconto aos nossos políticos porque eles não são deuses para interpretar toda essa relação de poder e de saber presente no cotidiano da sociedade brasileira, embora eles tenham formas de deitar uma significativa interpretação dos contextos sociais e culturais em meio à nossa idiossincrasia subjetiva e sua configuração social.

Pensando o pleito de 2018, é possível fazermos algumas interpretações dos números que o processo eleitoral mais recente nos ofereceu. Para começar vamos partir de um número arredondado por conveniência de análise: 208,5 milhões de brasileiros neste citado ano. De toda sorte, neste número, existem os votantes e os não votantes no último processo eleitoral. Aptos ao voto estavam 147.302.357 milhões de eleitores no citado pleito: em números percentuais, esse contingente com habilitação a ir às urnas, eles giravam por volta de 70,64% da população total do Brasil. Assim, quase 30% do público nativo deste país não pode manifestar sua vontade – embora tenhamos crianças que nem sabiam o que significa tal vontade. Mas, mesmo assim, há um recorte nessa história de direito democrático à escolha de representantes políticos no que chamamos de democracia e suas representações.

Para adentrarmos os números, vamos partir do pressuposto que o percentual representativo escolhido é o do conjunto do time político que logrou êxito em 2018, exceto pela análise do voto proporcional que, pela lei, não exige maioria de votos para um postulante chegar ao cargo de representação política. Comecemos pelos representantes legislativos da Câmara Federal, nossos deputados eleitos (deixamos de fora a representação legislativa estadual, pois, nossa intenção é mostrar alguns números mais globais). Aos números: daqueles que estavam aptos a votarem em todos os estados, foram validados 93.665.999 milhões de votos divididos entre os postulantes a cargo em questão. Por outro lado, 53.470.755 de eleitores preferiram (em todos os estados), ou votarem em branco ou anularem seus votos.

Aqui vale dizer que a somatória entre votos válidos e invalidados não leva em consideração os eleitores que estavam fora do Brasil no momento do pleito de 2018.
Assim, aproximadamente o total de 36% do eleitorado apto às urnas decidiu que nenhum postulante à Câmara Federal, em nenhum estado da federação, mereceria seu voto e sua confiança. Logo, na dureza dos atos, os vencedores deputados não são de fato representantes desse contingente de pessoas e, somando-se aos que não puderam expressar suas vontades de escolha (mais ou menos 30%), o número percentual dos que não têm oficialmente representantes no parlamento dos 513 representantes eleitos, sobe consideravelmente. Entre os votos válidos, significa que 45% é o percentual destes em relação à população geral, e 64% é o número percentual em relação aos que estavam aptos ao voto em 2018. Logo, mesmo entre vencedores e vencidos para a câmara federal, a somatória de sua representação em cima do contingente populacional do Brasil é de 26%.


O gráfico abaixo demonstra essa discrepância:



E isso pode ser mais absurdo ainda se retirássemos o percentual dos votos que foram dados a deputados que não conseguiram se eleger. Pensando sobre representação democrática e vontade popular (poder emanado), eles, nossos deputados, estão no poder pela vontade de uma vontade minúscula parcela do total de brasileiros. Olhando os números e não o frio cálculo da lei, não existe na câmara a representação da maioria, mas sim da minoria. O que parece ser contraditório ao pensamos o que significa etimologicamente a palavra “DEMOCRACIA” ou mesmo um tal desejo da maioria.

Saindo dos números proporcionais dos deputados federais, sigamos para os votos majoritários do Senado, a câmara alta do nosso parlamento. Será que nossos senadores estão no poder pela vontade majoritária de nossa gente ou pelo menos daqueles que estavam aptos a oferecer nas urnas suas respectivas opiniões?

Aos números por meio da próxima tabela:


Difícil de percebemos de modo geral tantos números, estado por estado, mas vamos tentar clarear essa confusão numérica. Partindo sempre dos dados entre população/votantes/eleitos... Desse modo, somente os estados do Acre, Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí têm pelos menos 50% do seu respectivo contingente populacional (vontade da maioria) representado no Senado Federal. De outra forma, podemos dizer que os votos majoritários dos eleitores dos estados brasileiros para seus respectivos representantes eleitos não são exatamente majoritários no contexto nem dos aptos e muito menos da sociedade como um todo. No Mato Grosso, por exemplo, do seu total populacional, somente 29% decidiram seus dois representantes. No frigir dos ovos, Mato Grosso (e, ademais, outros 22 estados) teve seu poder representado não pela maioria dos cidadãos, mas pelo seu contrário. Teoricamente, que força representacional seria esta que teriam tais senadores? Pouca, pensando-se na teórica vontade da maioria! Vejamos no Gráfico, onde em azul está o conjunto total das populações estaduais, e em azul claro, última coluna, está o percentual que escolheu seus senadores.



A coisa não fica muito diferente quando observamos cada poder executivo nos estados da federação. Onde governadores, no primeiro ou segundo turno, foram eleitos para o comando do seu respectivo estado pelo período de 04 anos a partir de 2019.







Em termos de percentuais de representação da vontade popular em cada estado, nossos governadores são a resultante de uma democracia que seleciona seus eleitos por uma minoria populacional absolutamente diminuta ao observarmos o número total de cidadãos por estados. Nenhum governador no Brasil, hoje em dia, pode sequer afirmar que representa, no executivo, metade de sua população pela escolha direta de seu mandato. Quem mais teve percentualmente a escolha de sua população foram os estados do Ceará e de Santa Catarina e, olhe lá!, com 38% em relação ao distintos público destes dois estados. O que mostra que nossa maneira de escolher governos é um pouco distorcida, ao pensarmos no tal poder emanado do povo pelo preceito maravilhoso da democracia.
Por fim, vamos ao líder maior de um país como o Brasil, o presidente da república.

Em 2018, o atual presidente obteve no segundo turno 57.797.847 milhões de votos, significando 57,13% (tinha que ter um treze pra ele!!!) dos votos válidos. Legitimamente escolhido pelas regras eleitorais do país e com também legitimidade de estar à frente do executivo nacional. Mas, vamos a outros números? Vejamos abaixo:






Dos 57,13% de eleitores que escolheram o presidente, ao incluí-los aos aptos ao voto, seu contingente percentual cai para 39% do total de eleitores. O que fica distante da metade daqueles que legalmente poderiam escolher o mandatário maior do nosso país. De modo que, 61% dos eleitores, por algum motivo, não o queriam no poder, ou pelo menos, não sentiram segurança de pô-lo no planalto como seu presidente. A coisa fica um pouco mais contundente quando olhamos o total de votos que elegeram o atual presidente em relação à população total do Brasil. Isto significa dizer que o presidente atual teve, em 2018, 28% da vontade do povo, menos de um terço na sua escolha pelos cidadãos brasileiros para o selecionamento do chefe do executivo nacional. De modo que 72% da nossa gente ou não o queria no poder ou não teve o que dizer sobre o assunto, ou mesmo, optou por se negar a fazê-lo nas urnas. No cru dos números, nossa democracia não é a escolha da maioria de seu povo, muito pelo contrário, é a vontade minoritária que seleciona seu líder.

Alguém pode refutar este texto ao falar sobre nosso sistema eleitoral que legaliza o pleito como está na atual configuração. Mas, é aí que mora minha reflexão: precisamos discutir urgentemente a forma ou a metodologia como escolhemos nossos representantes políticos para que nos aproximemos mais realisticamente de uma perspectiva democrática de fato. Nesse contexto, mais do que quaisquer reformas que queiram torná-las emergenciais os nossos representantes no poder, a reforma política é imperiosamente necessária para que tenhamos algo mais próximo da vontade majoritária da população brasileira no processo de escolha dos postulantes aos cargos públicos, os nossos políticos.

Enquanto essa é uma realidade distante (esta citada reforma), enquanto ela não vem de fato, que nossos representantes tenham minimamente a dignidade de discutirem profundamente com a população sempre que quiserem alterar alguma coisa que mexa diretamente com a vida do brasileiro: como a previdência, relações de trabalho, educação, etc. A imposição representacional, sem o devido debate com a sociedade, sobre quaisquer reformas, é mais um símbolo da nossa falta de democracia e desejo minoritário imposto goela abaixo da população. Pois, o que temos até agora está mais perto de um engodo pseudodemocrático do que um cenário onde o poder realmente seja emanado pelo povo.

Algumas fontes para este texto:
https://www.eleicoes2018.com
Créditos da imagem  inicial: Criador: Sérgio Lima



  

terça-feira, 19 de março de 2019

Diálogos facebookianos: da direita pra esquerda, da esquerda pra direita!


Conversa por meio do Facebook entre dois amigos que se posicionam em espectros distintos do campo político e ideológico. A cortesia e não agressão sempre são possíveis, mesmo nas diferenças. Discute-se ideias...


- Eu estou começando a achar Paulo Freire muito comunista!

- Você tá lendo Paulo Freire?

- Só as citações. Mas vou ter que ler pra um artigo. Ontem vi por cima um assunto aleatório "teologia da libertação" que Paulo Freire e Leonardo Boff são adeptos. Achei um absurdo isso. Não desqualifica outras ações de Paulo Freire, mas achei muito sem noção.

- Não acho mesmo que você vá gostar dos escritos frerianos.

- Uma coisa é estudar a lógica de pensamento de alguns autores como Gramsci e encontrar alguns pontos interessantes. Mas a revolução pregada por Gramsci resulta no comunismo. Então eu entendo quem se baseia buscando um bem estar social. Mas não entendo em quem aplica Gramsci com objetivo de chegar a um estado comunista.

- Pra quem ficou preso, falar em hegemonia ou aspectos culturais da sociedade não são coisas absurdas, à época. Mas, se precisa, por obrigação, lê-lo, o Freire, aconselho a começar por: "Educação como Prática de Liberdade" (1967), "Pedagogia do Oprimido" (1968), "A importância do ato ao ler" (1981) e pedagogia da autonomia (1996).

- É igual a Marx. Estudos importantes sobre o capitalismo. Que servem para todos sem exceção. Liberais a conservadores, capitalistas a comunistas. Mas querer implantar a revolução comunista de Marx é meio doido. Em qual livro Paulo Freire fala sobre extensão universitária?

- Freire pode-se dizer que é uma espécie de neomarxista! Extensão ou comunicação, mas, de certo modo ele aborda em tudo... Se você souber captar a mensagem!

- Provavelmente vou fazer um artigo sobre extensão universitária. Mas preciso achar isso em Paulo Freire.

- Rapaz, você não acha ninguém da direita escrevendo sobre extensão? Você se referenciar em Paulo Freire vai ser algo curioso... No mínimo escreverá algo em que não acredita. A não ser que seja para criticá-lo!

- A extensão brasileira está sendo vislumbrada na Europa como possível resistência ao mercado "selvagem" na educação. Nas universidades...

- Prove o contrário para os europeus. Os direitistas precisam produzir sua própria epistemologia... Eles não gostam muito, mas...

- Isso é assunto novo. Lembre que a educação e cultura estavam até anos atrás em hegemonia de esquerda. Por isso não tivemos guerras culturais até 2014. Logo seria impossível encontrar alguém contra Paulo Freire.

- A esquerda pesquisa e produz... Cara, toda a epistemologia de esquerda utilizada na educação brasileira, na sociologia, psicologia social vem desde o início do século XX. A direita não teve tempo de produzir nada esse tempo todo? Vai por mim, você se referenciar em Freire vai ser conflituoso para você e para seus textos!

- Não. Pois foi o início campo que permaneceu de esquerda. Observe o golpe militar no Brasil. A cultura continuou totalmente esquerdista... Até recentemente.

- Ou vocês produzem ou vai continuar sendo e com mais força. Procuramos buscar entendimento sobre a realidade.

- "Vocês?" Tá falando comigo? Tome tento... Rs

- Fuja não. Vocês de direita! A base científica da esquerda se fortalece nos momentos contrários.

- A hegemonia já foi rompida. Não é a toa que estamos em guerra cultural.

- isto não te inclui? Nunca houve hegemonia... Não nas ciências sociais. Impossível acreditar que seja possível...

- Centro-esquerda. Centro... Esquerda e direita no Brasil têm ideias muito antagônicas. Vejamos o conflito que deu quando os alunos formaram uma frente de direita na universidade e hoje você tem concorrendo para o DCE oposições brutais. Mas a questão não é direita e esquerda...

- Há uma quebra paradigmática. O pós... Mas, não leia Freire como referência... Ou entrará em conflito com seu próprio texto e você mesmo. Dica: Olavo de Carvalho “pode te servir” melhor sobre extensão, universidade, etc, ...

- É ser progressista ou conservador, é ser liberal, é ser idealista... Capitalismo é hoje inerente ao contrato social. A opção pelo comunismo não é mais opção, por exemplo. Ou se cria um bem estar social dentro do capitalismo ou teria de ter uma anarquia no sistema.

- Sei! Educação e consciência de Carvalhão! “Vai te ajudar bem...”

- kkkkkkkk

- Pedagogia e Olavo... Outro: “maturidade e educação”. Acho que você se dará melhor por aí (rsrsrs). Paulo Freire não te será boa companhia como argumento para um artigo. Pra mim, sim! Pra ti, acho improvável!

- Vou lhe mostrar como a esquerda comunista é diferente da esquerda. Tese produzida dentro dos estudos culturais, Asad Haider. A pessoa quando lê Gramsci só tem duas alternativas. Gritar viva o comunismo ou filtrar suas ideias e saber separar o joio do trigo. Eu não acredito que você mesmo ache que a primeira alternativa é equilibrada. É mais do que revolução, é anarquia. Hoje eu vejo que o foro de São Paulo realmente tinha planos de implantar o socialismo na América latina. Acho justo a pessoa assumir essa bandeira. Mas acho errado fingir que não era isso "não, nada a ver, foi só um cafezinho entre amigos". Claro que não. O problema está em esconder isso. E Gramsci sabia muito bem como fazer isso aos poucos. Os escritos dele ensinam passo a passo, a longo prazo, como implantar o comunismo. Pra quem gosta de comunismo tudo bem. Mas eu não gosto. Isso não me torna de direita. Got It? Paulo Freire, os zapatistas, a teologia de libertação etc. Tudo isso é citado como a perpetuação dos pensamentos de Gramsci. Maniqueísmo virou uma estratégia de esquerda. "se você não é bom, é mau".

- Gramsci tem muita influência no pensamento acadêmico de Freire e de uma centena de pensadores nos últimos 50 anos. Mas, você está pensando ainda na teoria crítica: a modernidade. Óbvio que as coisas devem ser postas no seu tempo devido. Para isso é preciso fazer/entender o caldo do contexto e observar a mudança do mundo... Mas, você está pensando na base do certo/errado, o mundo é mais complexo.

- A teologia da libertação é uma dos pés que Gramsci diz que tem que conquistar: a religião.

- Não sei se dessa forma, mas discutir... Podemos discutir e contestar tudo. Nada pode ser engessado até de discussão. Procure pelo pensamento pós-estruturalistas.

- O desfecho de tudo isso termina em Stuart hall, Willians, Bauman... Isso se resolve atualmente. Mas preciso estudar Freire pra fundamentar qualquer desenvolvimento.

- Goste ou não, Freire é necessário. Você pode ir por Pierre Bourdieu; Michel Foucault; Boaventura (para extensão universitária é ótimo); Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard; H. Bhabha...

- Boaventura virou um escritor autônomo. Em alguns pontos ele não fundamenta o que diz.
- Ultrapassou esse estágio. Morin também.

- Eu achava aquele livro "esquerda do mundo todo uni-vos" estranho. Aí, ele admitiu que foi uma escrita despretensiosa sobre pensamentos. E servindo de base ? É dose!

- E para lançar uma reflexão? Olha o Olavão? Faz pesquisa empírica aonde? E num vive deitando falação sobre tudo? Leia ‘a universidade do século XXI’, Boaventura. Bernard Charlot é bom. Foucault...

- Foucault é top! Engraçado que você lê Foucault e sabe que a escola é uma ferramenta de poder (Foucault), de domesticação (tem outro nome melhor), você sabe que isso faz parte do contrato social, você deve que é parte da sociedade civil (Gramsci)... Aí, as pessoas querem pregar uma educação sem amarras? Não existe essa ‘neoeducacão’ que as pessoas se educam como querem. A partir daí está rompido o conceito de sociedade civil.

- Pode ser. Mas, a sociedade é móvel, dinâmica e contraditória. Há réguas diferentes para medição das coisas e fatos. Quem vai determinar a régua certa?

- Mas, voltando: quanto ao foro de S. Paulo, é óbvio que um encontro de internacional de partidos de esquerda, a ideia é a implantação de governos de esquerda. Seria esquizofrênico os caras quererem o contrário. Como o contrário deve ser óbvio para encontros liberais, de direita, conservadores, etc. Ou será que anarquistas reunidos vão ter ordem? Rs.

- Sim, claro. Só que um detalhe tem que ficar claro: faltou consultar a população.

- A consulta à população vem por meio das urnas. E Paulo Freire afirma que a educação deve ser um ato político. E é! Sempre foi. Seja pra o lado que for. Ela jamais será isenta. Sempre atenderá algum interesse ou projeto político e de sociedade. Mas, antes, é preciso se organizar, elaborar um discurso, uma plataforma, um projeto... E aí, a sociedade decide se quer ou não. Não há mal o Foro querer organizar sua plataforma, a não na cuca dos paranoicos. Parece década de 1960! Organizem fóruns também.

- A extensão só está usando os autores errados. (E mesmo os novos autores são da nova esquerda). Obviamente que estou descobrindo isso aqui agora.

- Porque a direita, meu filho, nunca quis (quase nunca) chegar nem perto do povo para entender realmente o que o povo precisa. O que precisa falar. A direita quer superávit primário, por exemplo, quer o PIB crescendo, quer a Petrobrás sem roubo, mas entrega a sua riqueza ao capital privado externo. E de que adianta falar em vara de pescar e não ao assistencialismo se a direita não entrega nem uma coisa e nem outra? O que ela entrega? Precarização trabalhista, previdência que não aposenta! Temos um dito governo de direita agora. Diz aí, que projeto de fato foi apresentado até agora ou mesmo na campanha para geração de empregos, para melhorar a qualidade da saúde e da educação públicas? Para o desenvolvimento econômico ou regional? Nada! Ainda temos uma ladainha antiesquerda, mas nada é apresentado de fato que demonstre como a direita planeja o país para os seus 210 milhões de pessoas, para os anos vindouros.

- Tem um trecho de uma entrevista com Janaína Paschoal muito boa. Dizendo que falta leitura (estudo) à direita do campo... E aí lhe dou razão quando a direita se perdeu na ladainha da antiesquerda.

- Você pode dizer que é pouco tempo de governo (03 meses), mas lembre que 2003 por esses tempos já tinha sido apresentado à sociedade o Programa Fome Zero, que se derivou daí em Bolsa Família, Luz para todos, agricultura familiar, crédito para micro e pequenas empresas, etc...

- Falta pesquisa, produção acadêmica, conhecimento epistêmico. E a esquerda vai a campo pesquisar.

- A fala de Janaína Está alinhada com isso que você está dizendo.

- Nossa! Kkkkkk!!! Mas, ela também não ajuda, por enquanto! O que ela produziu a esse respeito como professora universitária? Confesso que não sei!

- Esse preparo que ela fala, traduza-se: “ok, chegamos ao poder”... Mas, não tem projeto mínimo que seja consistente, não tem mesmo. O máximo é lascar uma previdência dura em cima de todos e privatizar o que for possível. Acho que FHC tentou isso, e olha onde ele e o seu partido foram parar. Brasileiro pode ser conservador nos costumes, mas é altamente esquerdista na economia. O que é tão louco quanto ser “liberal na economia e conservador nos costumes”. Vai por mim, no Brasil, a economia é lida pelo povo: políticas de Estado de modo geral...

- Eu vejo Não só direita como esquerda torcendo para Mourão assumir. Considere a mudança no legislativo. Considere a manutenção de alguns cacetes do legislativo graças ao judiciário... Se mostra cada vez mais antigo e corrupto. Considere que o judiciário diz que toda a investigação do judiciário é sigilosa. O judiciário manda no país e eu digo isso desde 2013.  Difícil mudar um país com o judiciário corrompido.

- Sempre mandou. O brasileiro médio não liga para o legislativo... Nem sabe em quem votou. Agora, suas atenções sempre estarão em cima do executivo!

- Melhoramos alguma coisa no legislativo. Ao mesmo tempo cometemos gafes da época do coronelismo, como por exemplo, a eleição de um deputado federal totalmente corrupto fugindo de investigação nos Estados unidos.

- Houve tanta mudança assim no congresso? Só uns que estavam fora voltarem, outros afoitos que vieram por onda e os caciques sendo caciques.



- Sei. Tem uma frase que diz "o socialista dura até o dinheiro acabar". São complexas as ações, né?

- Você confunde socialismo e pobreza. Como se fosse a defesa da pobreza. Não seria a da dignidade social?

- Não. O socialismo no capitalismo existe como estado do bem estar social. Outro tipo de socialismo só se remover o sistema capitalista. O que parece ser uma grande utopia, ou como dizem "socialismo" ou "socialismo marxista". O marxista, acho, que tem muito a ver com a defesa da pobreza. Há de se refletir mais... O problema é a extrema direita (e a extrema esquerda). O liberalismo e bem estar social em doses certas parecem funcionar bem. O problema é os mais ricos abdicarem do capitalismo selvagem. Às distorções de direita e esquerda acho que são o maior problema no final. Tipo: o que caracteriza essas "caixas fechadas" que chamam de direita e esquerda?

- Marx falava justamente na sua crítica da razão de existir a pobreza e não algo do tipo: todo mundo deve aderir a ela. “O comum a todos” parte do princípio que a dignidade do ser humano deve ser igual para todos. E isso na prática, e não no discurso iluminista/burguês do positivismo... Lembre o tempo histórico do Marx.

- Existe até a teoria do buraco de minhoca preocupada que se construa uma ponte entre direita e esquerda. Como se fosse inaceitável o garimpo das ideias.

- Nisso concordo! É possível! Mas, acho que estamos numa transição paradigmática.

- Você dorme, come, se educa, tem saúde etc. Tudo isso em Cuba. Estamos falando de realidade e não de fantasia. Porém, os líderes são extremamente ricos e o povo, mesmo que quisesse não tem dinheiro pra viajar. Exceto que você entenda que a felicidade é nascer e morrer em Cuba, o regime socialista parece capenga, não? E falo sem exageros, uma vez que os pontos positivos estão todos exaltados no início. E são marxistas. Como Fidel diz "marxista-leninista".

- Culpa o sistema pela ação do homem, pelas relações de poderes. Eu queria que o mundo embargasse comercialmente os EUA por vinte e não por quarenta anos. Só vinte. Pra depois discutirmos o capitalismo lá, se estava dando certo ou errado. Quem viaja e quem seria ou não feliz lá.

- Curiosidade sobre o capitalismo: você sabia que estão analisando/percebendo que os países totalitários capitalistas tendem a ser as maiores economias mundiais? Aliás, isso ajuda está acontecendo diariamente diante dos nossos olhos. Isso explica a procura de Trump por um dialogo com a Coreia. Ao mesmo tempo explica os problemas com a China. Esse lado do capitalismo nem os EUA esperavam: Menos democracia, maior economia. O alerta vermelho está aceso. O problema acaba não sendo a economia, mas o fim da democracia.

- Acho que o grande pacto do capitalismo vem da ciência (seu progresso) e capital (dinheiro). Isso fortaleceu o capitalismo e seus bolsões macro e micro de poder. No capitalismo, a ideia de democracia é um embuste que pegaram lá dos gregos para pregar a ideia de que a democracia é o melhor dos mundos. Mas, se formos observar entre países e intrassociedades, essa tal democracia não existe nem de longe de uma maneira mais ideal. É completamente dominante na ação de dominação de alguns. É democracia demarcada para um recorte... Nas relações de poderes e de saberes.

- Sim, a democracia que temos foi a melhor solução que encontramos até agora, mas que ainda está longe da democracia ideal. A que não foi descoberta ou inventada...

- Essa noção de democracia que temos foi implantada para sustentar o capitalismo.

- Eu percebi até agora o que se discute é de onde viemos, qual o nosso papel, e para onde queremos ir. Existe uma linha esticada do passado mais passado possível até o futuro inimaginável. Eu não encontrei ainda nada que trabalhasse com uma linha do tempo individual. Ou seja, dentro das nossas expectativas de vida e para nossa vida, qual o modelo ideal? Porque esse negócio de "o mundo que deixaremos para os nosso filhos" me lembra aquela frase "do pó viemos e para o pó voltaremos".

- Imagina o mundo capitalista se não tivesse a existência de Marx, da epistemologia de esquerda...

- Perpetua-se, aí, duas ideias. A do capitalismo, uma vez que você pode sempre ter mais sucesso, mais conquistas e mais Riquezas porque isso vai para seus herdeiros. E a do socialismo, porque você sempre pode ter fazer desse mundo um local melhor para os futuros habitantes. Parecem dois planos maquiavélicos que estamos presos... Respondo sua pergunta fácil neste momento (vai que eu mudo depois, rsrs). Estaríamos presos a uma matrix capitalista e escravagista, porém diferente de hoje, não teríamos consciência disso. Teria que aparecer um filósofo para criar a teoria e existir a revolução. Mas eu entendo que hoje talvez seja mais interessante pensar em como “docilizar” o capitalismo do que destruí-lo.

- "Docilizar" um predador? Só vendo!  

 



Continua...

Livro de poesia: Na bacia das almas

NA BACIA DAS ALMAS, O SEGUNDO LIVRO DE POESIA DE VERIDIANO MAIA DOS SANTOS, ABORDA POEMAS SOBRE A CIDADE, SUA CONCRETUDE E SEUS SIMBOLISMOS...