Algumas questões são pertinentes
de serem formuladas nas cabeças daqueles que tendem à inquietude cognitiva
quando queremos saber sobre os acontecimentos temporais de nossos dias passados
e de nossos dias contemporâneos.
Nesse sentido, não parece ser
incongruente dizer que vivemos em um período histórico onde o revisionismo
tenta buscar seus argumentos para a explicação de fatos históricos que constituíram
o transcorrer de nossa história nacional no tempo e seus contrastes.
Ninguém acha (ou achou) meio
esquizofrênico pensar, por exemplo, a razão de a sociedade brasileira, que segundo
dizem, odiava o comunismo, ter colocado na linha de sucessão presidencial, o
Jango, na década de 1960? Será que o povo brasileiro estava tão odioso de uma
perspectiva mais à esquerda para o comando da nação nos idos daqueles tempos?
Jango entrara para a política na década de 1940 pelas mãos do Partido
Trabalhista Brasileiro. Fora vice-presidente, de 1956 a 1961, tendo sido eleito
com mais votos que o próprio presidente, Juscelino Kubitschek. Lembremo-nos que
naquela época se votava em presidente e em vice de modo independente.
Um pouco antes, em 1953, Getúlio
Vargas o nomeara Ministro do Trabalho. Como tal, convocou congresso sobre
previdência social, assinou decretos em favor dela... Em 1954, sob as críticas
ferozes de empresários, conseguiu mobilizar um aumento de 100% do salário
mínimo e só deixou o cargo de ministro com a morte de Getúlio Vargas.
Com esse histórico nem tão direitista
assim (tentando entender os conservadores de direita da época), era de se
pensar que ele não seria eleito pelas posições que assumia se, e somente se, o
povo tivesse verdadeira ojeriza às ideias de esquerda. Jânio Quadros, afiliado
aos partidos mais conservadores ou de direita, obteve pouco mais de 05 milhões
e 600 mil votos, sendo eleito presidente. Enquanto Jango, lado ideológico mais
destoante do titular, obteve mais de 04 milhões e 500 mil votos do nacional
eleitor. Será que as pessoas mais humildes ou classes mais embaixo da pirâmide
econômica, não eram tão antiesquerda como se imagina? Ou não havia clara
discussão sobre o que era esquerda e direita, e sim desinformação midiática e
política? Os analfabetos não votavam naqueles tempos. E mais de 24 milhões de
pessoas estavam nesta condição, o que significa que os aptos à escolha
presidencial tinham alguma leitura.
Seriam as aproximações de Jango
com ideias de melhor distribuição de renda e de reforma agrária os nexos de
comoção dos conservadores para o taxarem como um comunista? Tudo bem, o mundo
era bipolar entre capitalismo e comunismo e havia informações e contra informações
infiltradas para os dois lados antagônicos. Mas, no Brasil, objetivamente, o
comunismo teria força de se impor? Ou o medo de melhor (ou mínimo equilíbrio)
atuação governamental em favor dos menos assistidos e menos afortunados, no
campo – especialmente –, dava o tom do discurso reacionário entre alas de
ruralistas, empresários, meios midiáticos, políticos e militares? Segundo
historiadores, como o professor da UFMG Rodrigo Motta, não existiam condições
concretas para o domínio vermelho no Brasil naqueles anos conflituosos. E eram
tempos polarizados e conflituosos mesmo. Reivindicações de um lado e
mobilizações conservadoras de outro se batiam de modo contundente.
Como podemos tirar das reflexões
do citado historiador, implantou-se uma ditadura, um regime autoritário e
violento, para combater uma hipotética implantação ditatorial de esquerda no
país. Faz sentido? O autoritarismo de esquerdo ficou num plano hipotético, já o
de direita foi real e truculento. E nenhum dos dois serve a povo nenhum. Mesmo
com posteriores incursões reativas de grupos armados, a mobilização de todo o Estado
para seu combate de forma virulenta era necessária?
Já em fins do regime militar,
grupos violentos foram instalados no Brasil, como o comando Vermelho (1979). E,
hoje em dia, temos grupos bem mais organizados em facções criminosas; e não se
vê – exceto alguns desmiolados da extrema-direita – o povo pedindo a volta de
um regime de exceção para combater tais grupos. Na maioria das vezes, se pede
atuação firme do Estado por meio de suas instituições democráticas e leis
rígidas para o combate à violência urbana e rural. Bem como, políticas públicas
sérias que dignifiquem ou potencializem oportunamente a qualidade de vida de
todos os brasileiros.
Ao darmos um salto no tempo,
chegamos à segunda década do século XXI, onde especificamente em 2013 tivemos
manifestações efusivas contra aumentos de passagens de ônibus e contra o
cenário político: suas crises e corrupção no setor público eram os motes
principais para as pessoas irem às ruas em grande volume de gente. Mas, depois
disso, a crise econômica se intensificou, a crise política aumentou, um governo
foi ao chão poucos anos depois... Preços de combustíveis pipocaram, passagens
aumentaram, fizeram uma reforma trabalhista controversa, o desemprego continua
crescendo em 2019 (segundo IBGE), estão querendo uma reforma previdenciária
discutível. Por que será que não vemos outras mobilizações de protestos nas
ruas hoje em dia? De certo, o país não melhorou, especialmente, para os mais
vulneráveis economicamente.
Agora, em 2019, temos um governo
de extrema-direita, e, sob o discurso anticomunista (outra vez), busca um
revisionismo histórico e um remanejamento nas suas atuações diplomáticas, onde
dizem alguns entendidos, destoam das tradições de política externa do Brasil.
Tudo isso afirmando combater o viés ideológico, mas o que vemos até aqui é o
uso total ideológico em ação política do governo: seja na política externa,
seja no ataque às instituições formativas, como universidades e escolas, seja
nas supostas necessidades de desconstrução que o presidente atual quer. Não
temos aí uma implantação ideológica de extrema direita sendo implantada sob os
argumentos do liberalismo econômico e por meio de uma pauta conservadora meio difusa?
Isso será o caminho que levará o Brasil ao desenvolvimento sustentável, ao
crescimento econômico e à redução de nossas imensas desigualdades sociais? Será
que o país saiu supostamente de uma metodologia ideológica de um governo para
cair numa pior para o seu povo de modo geral? O populismo saiu fora ou agora
está mais ambicioso? O tempo dirá nossos próximos passos com o que ele tem de
melhor: seu transcorrer e sua contação histórica!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu contato para troca de saberes sobre postagens específicas: