quarta-feira, 3 de abril de 2019

Perguntas e os tempos...


Algumas questões são pertinentes de serem formuladas nas cabeças daqueles que tendem à inquietude cognitiva quando queremos saber sobre os acontecimentos temporais de nossos dias passados e de nossos dias contemporâneos.
Nesse sentido, não parece ser incongruente dizer que vivemos em um período histórico onde o revisionismo tenta buscar seus argumentos para a explicação de fatos históricos que constituíram o transcorrer de nossa história nacional no tempo e seus contrastes.

Ninguém acha (ou achou) meio esquizofrênico pensar, por exemplo, a razão de a sociedade brasileira, que segundo dizem, odiava o comunismo, ter colocado na linha de sucessão presidencial, o Jango, na década de 1960? Será que o povo brasileiro estava tão odioso de uma perspectiva mais à esquerda para o comando da nação nos idos daqueles tempos? Jango entrara para a política na década de 1940 pelas mãos do Partido Trabalhista Brasileiro. Fora vice-presidente, de 1956 a 1961, tendo sido eleito com mais votos que o próprio presidente, Juscelino Kubitschek. Lembremo-nos que naquela época se votava em presidente e em vice de modo independente.

Um pouco antes, em 1953, Getúlio Vargas o nomeara Ministro do Trabalho. Como tal, convocou congresso sobre previdência social, assinou decretos em favor dela... Em 1954, sob as críticas ferozes de empresários, conseguiu mobilizar um aumento de 100% do salário mínimo e só deixou o cargo de ministro com a morte de Getúlio Vargas.

Com esse histórico nem tão direitista assim (tentando entender os conservadores de direita da época), era de se pensar que ele não seria eleito pelas posições que assumia se, e somente se, o povo tivesse verdadeira ojeriza às ideias de esquerda. Jânio Quadros, afiliado aos partidos mais conservadores ou de direita, obteve pouco mais de 05 milhões e 600 mil votos, sendo eleito presidente. Enquanto Jango, lado ideológico mais destoante do titular, obteve mais de 04 milhões e 500 mil votos do nacional eleitor. Será que as pessoas mais humildes ou classes mais embaixo da pirâmide econômica, não eram tão antiesquerda como se imagina? Ou não havia clara discussão sobre o que era esquerda e direita, e sim desinformação midiática e política? Os analfabetos não votavam naqueles tempos. E mais de 24 milhões de pessoas estavam nesta condição, o que significa que os aptos à escolha presidencial tinham alguma leitura.

Seriam as aproximações de Jango com ideias de melhor distribuição de renda e de reforma agrária os nexos de comoção dos conservadores para o taxarem como um comunista? Tudo bem, o mundo era bipolar entre capitalismo e comunismo e havia informações e contra informações infiltradas para os dois lados antagônicos. Mas, no Brasil, objetivamente, o comunismo teria força de se impor? Ou o medo de melhor (ou mínimo equilíbrio) atuação governamental em favor dos menos assistidos e menos afortunados, no campo – especialmente –, dava o tom do discurso reacionário entre alas de ruralistas, empresários, meios midiáticos, políticos e militares? Segundo historiadores, como o professor da UFMG Rodrigo Motta, não existiam condições concretas para o domínio vermelho no Brasil naqueles anos conflituosos. E eram tempos polarizados e conflituosos mesmo. Reivindicações de um lado e mobilizações conservadoras de outro se batiam de modo contundente.

Como podemos tirar das reflexões do citado historiador, implantou-se uma ditadura, um regime autoritário e violento, para combater uma hipotética implantação ditatorial de esquerda no país. Faz sentido? O autoritarismo de esquerdo ficou num plano hipotético, já o de direita foi real e truculento. E nenhum dos dois serve a povo nenhum. Mesmo com posteriores incursões reativas de grupos armados, a mobilização de todo o Estado para seu combate de forma virulenta era necessária?

Já em fins do regime militar, grupos violentos foram instalados no Brasil, como o comando Vermelho (1979). E, hoje em dia, temos grupos bem mais organizados em facções criminosas; e não se vê – exceto alguns desmiolados da extrema-direita – o povo pedindo a volta de um regime de exceção para combater tais grupos. Na maioria das vezes, se pede atuação firme do Estado por meio de suas instituições democráticas e leis rígidas para o combate à violência urbana e rural. Bem como, políticas públicas sérias que dignifiquem ou potencializem oportunamente a qualidade de vida de todos os brasileiros.

Ao darmos um salto no tempo, chegamos à segunda década do século XXI, onde especificamente em 2013 tivemos manifestações efusivas contra aumentos de passagens de ônibus e contra o cenário político: suas crises e corrupção no setor público eram os motes principais para as pessoas irem às ruas em grande volume de gente. Mas, depois disso, a crise econômica se intensificou, a crise política aumentou, um governo foi ao chão poucos anos depois... Preços de combustíveis pipocaram, passagens aumentaram, fizeram uma reforma trabalhista controversa, o desemprego continua crescendo em 2019 (segundo IBGE), estão querendo uma reforma previdenciária discutível. Por que será que não vemos outras mobilizações de protestos nas ruas hoje em dia? De certo, o país não melhorou, especialmente, para os mais vulneráveis economicamente.

Agora, em 2019, temos um governo de extrema-direita, e, sob o discurso anticomunista (outra vez), busca um revisionismo histórico e um remanejamento nas suas atuações diplomáticas, onde dizem alguns entendidos, destoam das tradições de política externa do Brasil. Tudo isso afirmando combater o viés ideológico, mas o que vemos até aqui é o uso total ideológico em ação política do governo: seja na política externa, seja no ataque às instituições formativas, como universidades e escolas, seja nas supostas necessidades de desconstrução que o presidente atual quer. Não temos aí uma implantação ideológica de extrema direita sendo implantada sob os argumentos do liberalismo econômico e por meio de uma pauta conservadora meio difusa? Isso será o caminho que levará o Brasil ao desenvolvimento sustentável, ao crescimento econômico e à redução de nossas imensas desigualdades sociais? Será que o país saiu supostamente de uma metodologia ideológica de um governo para cair numa pior para o seu povo de modo geral? O populismo saiu fora ou agora está mais ambicioso? O tempo dirá nossos próximos passos com o que ele tem de melhor: seu transcorrer e sua contação histórica!

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