sábado, 29 de setembro de 2012

Escritos quase poéticos

Escrevo meus poemas como quem salta pecados
Discorro meus dramas em sorrisos baratos
No momento das apresentações...
O prazer pode ser apenas uma incerteza!

Não há lugar vulgar, com preços módicos
Que eu não goste
Consigo transitar bem
Mas, somente, entre aqueles que desperdiçaram suas chances

Tenho debilidades amorosas
Que me chegam sem notícia de aviso prévio
Sou surpreendido de quando em vez
Pelo perigo do abismo que saltei - mas que está lá:
Chamando-me de vagabundo

Escrevo minhas crenças em linhas amargas
Das descrenças que me encerrei
Salto arranjos e esqueço frases de efeito
A assim, balbuciando frágeis alegrias
Escrevo meus poemas como se fosse um lorde.
Veridiano Maia

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Soneto alegre 

Crepito, irrito, e aflito disparo meu veneno
Amparo a quem embaraça as ilusões
Teço um fio imaginário, turvo, mas sereno

Numa vida que nunca estabeleceu padrões.

Quem desce a si mesmo não se esmaece
Mas, disputa uma guerra sem vencedores
De todos, excêntrico, quase se esquece
E apaga embevecido todos os pudores.

Reflexo de mim, espelho da alma
A angústia, que nunca me foi amiga
Irrita minha solene e altruística calma.

Que em tudo, desola-se trêmula e ferida
E aflita, crepita e espelha o trauma
Que permeia, endógena, a sôfrega vida.
Veridiano Maia
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scarpin de cetim

Dá-me um punhado de sonhos seus
Que os meus se perderam no caminho
Dá-me uma oração talentosa
Pra ver se ainda salvo a minha prosa
Depois que eu fui indo, fui indo...

Dá-me seu sal, seu molho, um sorriso,
Que o meu já não é mais tão preciso
Dá-me uma mecha de qualquer amparo
Um tom correto, vibrante, bem raro!
Antes que eu saia fingindo...

Seja o meu scarpin de cetim
Planta dos pés, amor em mim!
Seja meu par, meu paralelo,
O meu calço seguro, o meu chinelo,
A minha pedra fundamental.

Dá-me uma moda, mesmo retrô,
Dá-me uma escada ou um bangalô
Dá-me a estrada que o retrovisor
Do meu passado quebrou, quebrou!
Que o meu passado quebrou...

Veridiano Maia
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sugestões de boas práticas aos candidatos quando eleitos.



Eu sei que o que eu vou escrever aqui não tem nenhum fundamento epistemológico, filosófico, pedagógico ou espiritual mesmo, de alguma originalidade; mínima que seja. Mas, mesmo assim, vamos lá!

Estamos chegando perto da eleição e já no primeiro turno decidiremos nosso legislativo. Embora a eleição majoritária vá para o segundo turno, e espero que vá (se possível com a disputa entre Mineiro e Robério – como sou sonhador!), não podemos nos esquecer de quais os tipos de figuras, raças, ideologias e caráter estarão nos representando nos próximos 04 anos na vereança natalense. Muito da desgraça pestilenta e apocalíptica que se abateu sobre Natal de alguns muitos anos para cá, se deve também à conivência omissa do legislativo para com os gestores do executivo. Então seria bom se a gente prestasse mais atenção aos vereadores, embora a gente não preste!

Mas, aqui não quero falar sobre a importância que um vereador sério tem para um município. Todo mundo sabe. Quero propor algumas ideias nada originais (como já disse) para quando essa turma chegar lá em 2013. Embora não tenham poder de reformular a política em teoria e alterar a legislação vigente, já que isso cabe ao Congresso Nacional, os vereadores e vereadoras de Natal poderiam estabelecer um código tácito de honra supralegal por meio de algumas práticas saudáveis. Eis algumas poucas sugestões:

1º Todos os ascendentes e descendentes dos nossos representantes eleitos deveriam estudar em escolas públicas de Natal enquanto o sujeito, vereador fosse;

2º Da mesma forma, só poderiam ser atendidos em hospitais e postos de saúde da rede pública, pelo SUS, e se preciso fosse de uma cirurgia ou algo mais complexo entrasse na fila de espera como está acontecendo hoje em dia aqui em Natal (em hospitais matadouros) - onde pessoas são tratadas como coisas por falta de estrutura e investimento e excesso de corrupção em alguns casos;

3º Todo cargo de assessoria de todos os vereadores e vereadoras seriam preenchidos por concurso público temporário (para atender o preceito da isonomia e moral nos cargos públicos), com prazo de 04 anos. Sob a tutela e organização de bancas examinadoras sérias, de universidades públicas, por exemplo, para que o concurso fosse sério mesmo;

4º Nada de veículo oficial. Trabalho é trabalho e quase ninguém anda em veículo oficial por aí. Muito pelo contrário, os nossos representantes do legislativo só poderiam ir para o trabalho e em suas atividades oficiais da vereança em transporte público ou no seu particular custeado pelo próprio bolso (como todo mundo), deveriam usar cartão eletrônico e tudo mais, com relatórios de embarque e desembarque diário publicado em páginas virtuais de transparência;

5º Nada de segurança particular. A segurança deve ser pública e comum a todos os cidadãos (ou serve pra todo mundo ou não serve para ninguém);

6º Toda votação no legislativo deve ser aberta. Jamais secreta. A casa é do povo. O interesse é público;

7º Aumento de salário de legislador municipal somente se o povo conceder; vereador é um servidor, isso significa que está lá para servir ao seu patrão que é o povo e não para se beneficiar com subterfúgios e negociatas entre pares;

8º Trabalhar 08 horas por dia (metade na câmara e metade em educativas visitas de campo na realidade do cotidiano dos bairros); como a maioria dos trabalhadores que ganham o mínimo, e de segunda a sexta pelo menos. 'Causo' tenha falta injustificada, desconto financeiro em seu pagamento no fim do mês.

Enfim, se eles e elas querem tanto SERVIR ao povo, não deveriam se negar a se comprometerem publicamente com essas práticas honrosas e de bom tom, mais cabíveis a quem se presta a querer ser representante do povo e bem servi-lo para uma vida socialmente menos injusta e mais digna para todos nós.




domingo, 23 de setembro de 2012

Vote!

Poema Maiakovskiano *


Bradam víboras e incautos
Sobre a liberdade de votar.
Cospem como se não tivessem,
Por dependência, interesse,
Ou subserviência, presos
Às correntes do poder.
Vivem do mal que dele emana
E bronzeam-se à sua sombra.
Desse viver não se arredam,
Pelo medo oxigênico
De sobreviver fora do aquário,
Tenha a cor que ele tiver.

Liberdade de votar, amigo,
É relativa, muito relativa!
E nada tem a ver com o voto livre.
Quem tem responsabilidade
Não é livre para votar,
Pois se prende ao interesse comum.
O voto se afirma, objetivamente,
Na ideia que se tem de povo
E de suas necessidades;
O voto só faz sentido
Se for pensado coletivamente,
Com solidária generosidade.
Então, quem é livre não vota por si;
Quem é livre vota pelo outro!

Quem é livre, torna seu voto livre!
De vaidades, de interesses pessoais,
Livre do escambo, da ânsia de perda
De eleição ou oportunidade.
O voto livre ver o compromisso,
E não vota por amizade!
A amizade “incandeia”,
O compromisso ilumina.

No entanto, amigo velho,
O voto livre carrega-se de medo!
Triste medo de perder
Uma infância pro abandono,
Um jovem para o crime,
Um homem pra a corrupção,
Uma vida para a morte...
Medo de ver a cidade flutuante,
De luto por seu passado,
Desgovernada, naufragar num verde-mar
Que rescende a sangue extraviado.
Medo de ver, enfim,
Sua jovem pele social
Embriagada e corrompida
Pelos encantos sibaritas do poder.


João Vicente Guimarães Barbalho

* Contribuição [sugestão de postagem] da educadora Ana Lúcia Ferreira de Melo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Como será isso? Explique-me, cara pálida!



 Educação em tempo integral e promessas dos prefeitáveis!

Posso até estar enganado, mas tenho quase certeza que todos os candidatos a prefeito de Natal em 2012, em suas propagandas eleitorais gratuitas na televisão e em seus falatórios em debates, falaram e falam em melhorar a educação. O clichê eleitoral é o de sempre e cada um deles, mais do que o outro, se posta autointitulado como aquele que vai finalmente trazer a tão bem fadada qualidade para o sistema público de ensino dessa cidade (seja lá o que isso significa em templos de pleito). Claro que, depois da redemocratização política do Brasil, seja em esferas municipais, estaduais ou da federação, o discurso sobre qualidade na educação em tempos de campanha eleitoral é ‘chover no molhado’. O grande problema está no que acontece na prática, pós-eleições e posse.

A grande moda nos últimos tempos pelas de cá da linha do equador é candidato prometendo educação em tempo integral. Meu amigo, os caboclos enchem a boca pala falar nessa tal educação em tempo integral que é uma beleza de ver e de ouvir. A bronca passa no danado do “como”. Como, caras pálidas vocês vão instituir na província de Cascudo a educação em tempo integral? Acho que esse pequeno detalhe, diante da realidade histórica da nossa educação pública, sua estrutura desestruturada e sucateada, seu descaso, o bendito limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal que pouco os candidatos abordam e muito os gestores empossados exploram, faltam-lhes anunciar em tempos de campanha eleitoral. Nesta, especificamente, estão os detalhes desse “como”.

Nesses poucos minutos de redijo este humilde e superficial texto reflexivo, penso em alguns aspectos primeiros, diante do que há atualmente, para termos um sistema público de ensino nesta cidade de tempo integral, dada sua realidade:
1º) As escolas públicas de Natal estão abarrotadas de alunos por salas de aula (40, 45 deles por turma). Ainda ficam de fora do sistema educacional de Natal por falta de vagas/escolas/profissionais, outro tanto de milhares de crianças e jovens;
2º) Nossas escolas, em sua maioria, carece de estrutura física para atender a atual demanda. Por exemplo: bibliotecas inexistentes ou mínimas e improvisadas com parco material de leitura, pesquisa e ensino; sala de informática nas escolas, quando há, que pouco garante o funcionamento pedagógico adequado; quadras poliesportivas deterioradas e incapazes se prestarem aptas para o desenvolvimento da educação física de forma apropriada; falta de laboratórios para o processo de ensino-aprendizagem; e inexistência em quase todas as escolas de ateliês e salas adaptadas para o ensino da arte.

Agora, vamos fazer um pequeno cálculo. Em média, nossas escolas têm 10 salas de aula, que recebem respectivamente em cada ano letivo cerca de 40 alunos. Isso significa que são 400 alunos no turno da manhã e mais 400 no turno da tarde de uma mesma escola pública. Logicamente que, se vão (como prometem de forma vazia os nossos candidatos) integralizar o ensino para os alunos da manhã, onde serão postos esses alunos no período da tarde? Será que vão colocar 80 alunos por turma? E vice-versa. É um problema. Porque antes desses políticos prometerem superficialmente educação em tempo integral deveriam dizer como o farão, como disse. Vão duplicar as escolas? Vão construir pelo menos o dobro de outras? Precisaremos de espaço físico.

O professor do ensino fundamental da escola pública de Natal (só pra falar nestes) se quer ter o mínimo de dignidade social na sua vida, precisa trabalhar manhã e tarde e, muitas vezes, à noite para garantir um somatório salarial bem meia-boca no fim do mês. Logo, para que haja a propalada educação em tempo integral na rede pública de ensino desta capital, que funcione com qualidade, teremos que ter muito mais professores. Nossos candidatos, em sendo eleitos, vão contratar mais docentes? Vão abrir seleção pública via concurso?

No sistema educacional em tempo integral, pensando de forma rasteira e breve, quase divagando, é preciso no contra turno que existam oficinas em artes; atividades de educação física com várias modalidades; aulas de informática; reforço e acompanhamento pedagógico e socioeducacional; salas de leitura para estudos e bibliotecas decentes para pesquisa; aulas de campo com transporte adequado; laboratórios para estudos de ciências. Teremos tudo isso? Teremos profissionais outros, qualificados, para atuarem junto com os docentes na formação integral dos alunos? Do contrário, na estrutura escolar que temos nesse caos educacional que temos nessa falta de tudo que temos nas escolas, se alunos forem colocados nestas escolas (enclausurados) das 07h às 17h, os coitados surtam em duas semanas e nunca mais aparecem nas instituições de ensino.

Não sou contra a educação em tempo integral. Para formarmos cidadãos mais completos e críticos nós precisamos aumentar o tempo de permanência destes na educação formal, isto é, nas escolas. Mas, é preciso que se tenha um planejamento mínimo e investimentos máximos na escola pública de Natal (caso deste causo), formação continuada dos profissionais, dentre outras navegações intergalácticas do universo pedagógico.

Segundo Mota (2006), “um projeto como a Escola de Tempo Integral, que pretende redimensionar e enriquecer a estrutura organizacional da escola com novos espaços e oferecer maior tempo de permanência aos alunos, pressupõe matrizes curriculares ampliadas e disposição da equipe escolar. A organização curricular da Escola de Tempo Integral dispõe que irá manter o desenvolvimento do currículo básico do Ensino Fundamental, enriquecendo-o com procedimentos metodológicos inovadores – as Oficinas Curriculares -, a fim de oferecer novas oportunidades de aprendizagem e vivência através de atividades de natureza prática conforme as ‘diretrizes gerais’ sobre a Escola de Tempo Integral”.

A mesma autora continua:
“Um dos papéis que esperamos da escola [em especial que tenha ensino em tempo integral] é o de que ela promova a formação de pessoas aptas a exercerem sua plena cidadania. As Oficinas Curriculares, de acordo com as Diretrizes Gerais, complementarão, em espaços diferenciados, as matrizes curriculares básicas, no intuito de realizar o exercício da cidadania. Estas Oficinas de enriquecimento curricular viabilizarão, em tempos complementares, os seguintes objetivos: educar e cuidar da imagem positiva do aluno; atender às diferentes necessidades de aprendizagem; promover o sentimento de pertinência e o desenvolvimento de atitudes de compromisso e responsabilidade para com a escola e com a comunidade, instrumentalizando-o com as competências e habilidades necessárias ao desempenho do protagonismo juvenil e à participação social; promover a cultura da paz pelo desenvolvimento de atitudes de auto-respeito, respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo” (MOTA, 2006).

Retomando uma ideia, seria magnífico se nossos candidatos parassem de usar a 'verbarrogia modística' de maneira vazia e, para além de falarem em suas campanhas de promoção da qualidade na educação em suas futuras hipotéticas gestões e educação em tempo integral só porque acham charmoso anunciarem em suas campanhas, pudessem fazer esses anúncios para o eleitor de forma detalhada e mais aprofundada, isto é, de maneira verdadeiramente séria (vamos combinar!). Deveriam mostrar como seriam os supostos investimentos na educação desde a estrutura até a valorização dos profissionais que nela militam; como seria o planejamento que têm em mente para debaterem com os professores a implantação integral do sistema educacional de Natal, etc etc... e não só se utilizarem das propagandas políticas para promessas eleitoreiras que mais parecem meras promessas.




MOTA, Silva Maria C. Escola em tempo integral: da concepção à prática. VI Seminário da Redestrado: regulação educacional e trabalho docente, RJ, 2006.




                                                

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Compartilhando uma ótima ideia e argumentos.

Amigos,
Caso ainda não tenham decido em quem votar para vereador, venho pedir o seu voto para Amanda Gurgel. Voto nela por vários motivos: um deles é por não concordar com o loteamento da nossa Câmara Municipal, por grupos que se apossaram daquelas cadeiras, passando o poder da gestão do dinheiro público por várias gerações para os JÚNIORS Maia, Alves, Arruda, Lopes, entre outros que numa visão determinista (equivocada) nasceram destinados a herdar o trono de seus ancestrais. 

Outra questão é por entender que Amanda representa a vontade de um coletivo, de uma categoria que ainda não tem representatividade para fiscalizar e lutar pela aplicação do dinheiro público municipal destinado para educação (vocês sabem que a nossa cidade não investe nem o que determina a lei e que os recursos destinados pelo MEC não estão chegando nas escolas. Digo isso com propriedade pois estou vivendo na pele o resultado desse descaso). 

Admiro e apoio Amanda porque somos nós, trabalhadores de vários setores, que financiamos os recursos para pagar as despesa da campanha (rifas, bazar, sebo e doações voluntárias de salários) e não aceitamos a participação do capital empresarial por entendermos que política não se faz com barganha, trocas de favores, mas com ideais, sonhos e utopias, com conhecimento de leis e respeito pelo público. 

Amanda é minha candidata porque soltou um grito entravado na garganta dos professores do nosso país naquela audiência pública na Assembléia Legislativa onde denunciou os problemas que enfrentamos cotidianamente nas escolas. Um grito que não revelou nada de novo, pois são problemas que se arrastam há décadas, mas a sua indignação e habilidade comunicativa atenderam as necessidades de um coletivo (professores) que vem pedindo socorro aos gestores e que são constantemente acusados, injustamente, pelo resultado caótico da educação. 

Voto em Amanda porque trabalhei com ela durante seis anos e pude comprovar a sua coerência com os ideais que defende; compromissada com as aulas, criativas na elaboração e prática dos projetos educativos, pelos quais problematiza a realidade dos alunos levando-os a pensar criticamente e atuar como cidadãos.

Amanda é minha candidata porque passou pelo mesmo problema que eu e diversos professores passaram, quando entrou na educação pública, muito nova, e se deparou com os problemas de crianças e adolescentes (e também adultos esquecidos, historicamente) que estão à deriva e marginalizados, sem perspectivas melhores de vida e com isso, adoeceu porque se indignou com a injustiça e não aceitou o fato de que a educação dos filhos dos trabalhadores seja inferior a educação dos filhos daqueles que estão no poder. 

Voto nela porque soube transformar sua fragilidade na alma, daquele momento, sua indignação, sua dor, em luta, em grito, em coragem, representando o desejo de muitos nós que presenciamos diretamente os problemas sociais, afetivos e cognitivos dos nossos alunos e que a escola, no modelo em que se encontra e com baixos investimentos, não consegue resolver. 

Por essas e por outras razões voto em Amanda Gurgel. Vocês sabem do compromisso que tenho com meu trabalho, da minha coerência. Jamais defenderia um candidato que fosse contrário aos meus ideais, ao principal objetivo que deve guiar a política de desenvolvimento de um país: EDUCAÇÃO DE QUALIDADE PARA TODO O SEU POVO!

Enfim, mesmo que já tenham compromisso com outros candidatos avaliem meus argumentos, meu pedido. Consigam votos com amigos, parentes de amigos, namorados. Estou organizando uma reunião para apresentá-la caso tenham interesse entrem em contato.

Com imenso carinho: Ana Lúcia Ferreira de Melo (Educadora).

Poesia de Violeiros Nordestinos.

Cantoria de viola, manifestação muito forte no Nordeste brasileiro é uma das mais belas e impressionantes expressões culturais dessa região. Os repentes feitos de improviso são pérolas sonoras e verbalizadas que só quem já presenciou sabe como é. Abaixo, uma genial composição de Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amancio (a primeira estrofe é iniciada por Geraldo, alternando-se as estrofes seguintes entre este e Ivanildo).
Geraldo Amancio
Vila Nova














Lampião, rei do cangaço!

Foi manso como um cordeiro
Teve o pai assassinado
Se sentido injustiçado
Se torna, então, justiceiro
O reilho de comboieiro
Troca pelo mosquetão
Esquece burro e surrão
Frete, tropa, corda e laço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Conduzia o cangaceiro
Além de rifle e punhal
Carne seca no bornal
Farinha e sal pra tempero
Fumo e remédio caseiro
E patuá de proteção
Dez quilos de munição
Forravam seu espinhaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Antes de ser cangaceiro
Vivia da paz da choça
Foi trabalhador da roça
Tangeu burro, foi tropeiro,
Foi poeta e sanfoneiro
Tocou fole e violão
Fez martelo e fez quadrão
Do mesmo jeito que eu faço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Não podia existir paz
No país dos cangaceiros
‘Homena’ contra ‘Calheiros’
Os ‘Ferraz’contra os ‘Novaes’
Os ‘Cabral’ contra os ‘Moraes’
Morte, vingança e questão
Montes, Feitosa e Mourão,
De todos herdou o traço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Andava bem equipado
Por vereda e por floresta
Chapéu quebrado na testa
Botas de couro de gado
Bornal de balas de lado
Rifle e cruzeta na mão
Três palmos de dimensão
Tinha seu punhal de aço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Quando um patrão desonrava
E à moça pobre ofendia
Quando lampião sabia
As providências tomava
Sendo solteiro casava
Casado ia pra o caixão,
Serviu de exemplo e lição
Pra fazendeiro devasso
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Foi herói, bandido e louco,
Foi um mestre sem estudo
Um gênio acima de tudo
Que teve o mal como troco
Se envultava em pé de touco
Na força da oração
Enfrentava um batalhão
Sem levar nenhum balaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Um primitivo ‘sandino’
Um estrategista bruto
Um Fidel Castro matuto
Um Roximbi nordestino
Adulto virou menino
Quando teve uma paixão
Aí o seu coração
Muda o ritmo e o compasso
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Desconfiado e valente
Lampião temia mais
Uma só sombra por trás
Do que cem homens na frente
Obedecia somente
Ao Padre Cícero Romão
O resto era no facão
Na lazarina e no braço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

No bando de Virgulino
Nomes que a gente destaca
Zé Sereno, Jararaca
Ezequiel e Livino
Volta Seca e Ponto Fino
Pilão Deitado e Balão
O sangue ensopando o chão
E balas cruzando o espaço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Tendo Angicos como coito
A sua tropa reúne
Se sente da morte imune
E ali fica mais afoito
Em julho de trinta e oito
Tombou sem vida no chão
Na corda da traição
Findou caindo no laço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

Maria, amante e consorte,
Nordestina destemida
Foi companheira na vida
Na desventura e na morte
Sente um choque muito forte
Ao vê-lo morto no chão
Cai sobre o seu coração
Dando o derradeiro abraço
Lampião, rei do cangaço
Foi assombro do sertão.

***

Nesta, os repentistas fazem uma ode genial aos cordelistas e aos cordéis conhecidos no nordeste brasileiro. A composição é uma sextilha que quebra sempre nos versos ímpares, tornando a composição nove por seis (Aqui quem inicia com a primeira estrofe é Vila Nova, alternando-se com G. Amancio).



NOVE PALAVRAS POR SEIS: CORDELISTAS E CORDÉIS 
IVANILDO VILA-NOVA E GERALDO AMANCIO



Lu de Jorge, Carolina,

[ou Josina]

E o herói João de Calais

Um Agenor e Helena
[Madalena]
Oliveira e Ferra Braz
José de Souza Leão
[o Lampião]
E As Queixas de Satanás.

José Camelo, um dos nomes,
[Leandro Gomes]
Manoel Camilo e Palmeira
Manoel de Almeida e Zé Lima
[boa rima]
É a de Cícero Vieira
João Martins, Chico Firmino,
[Minelvino]
E Severino de Oliveira.

A Deusa do Maranhão
[a discussão]
De Rio Preto e Vicente
Cecília e Natanael
[Daniel]
Debate de Padre Crente
Pecado de Adão e Eva
[Genoveva]
E O Sertanejo Valente.

Um Lucas Evangelista
[Paulo Batista]
Zé Pacheco, Zé Visgueiro!
Manoel Apolinário
[Olegário]
Fernando, bom folheteiro.
Chico Sales, Téo Macedo,
[Téo Azevedo]
E Pedro Mendes Ribeiro.

Invasão da Carestia
[Zé Garcia]
E As Belezas de Campina...
Virgem dos Lábios de Mel
[tem Mabel]
E A Vingança de Marina
O Amor no ABC
[São Saruê]
E Genário com Jovelina.

Tem Vicente Vitorino
[Carolino]
Manoel Caboclo e Palmeira
Além de João Severo
[lembra Homero]
João Melquíades diz Ferreira
O Teodoro Ferraz
[ainda mais]
João Freire e Paulo Teixeira.

Carrancas do Piauí
[e Bem-te-vi]
Vida de Zé Colatino
O Macaco da Montanha
[João Saldanha]
E As Bravuras de Silvino
O Cego e o Aleijado
[Jorge Amado]
E meu Jesus é Nordestino.

Nas Portas do Cabaré
[Josué]
José Gustavo e Roxinha
Grinaura, Sebastião
[Frei Damião]
Mais Pedrinho e Julinha,
Previsões do Fim do Mundo
[vira mundo]
Com Zezinho e Mariquinha.

Dedé, Patrícia e Antônio,
[Apolônio...]
...Alves que tem boa pena!
Um Expedito Francisco
[já tem disco]
Costa Leite e Santa Helena
Caetano, Cosme e Diniz,
[Manoel Luiz]
E Joaquim Batista de Sena.

Sofrimento de Jesus
[João da Cruz]
O Sabido Sem Estudo
O Pavão Misterioso
[João Mimoso]
Zé Lapada e Topa Tudo
Temos João Grilo e Cancão
[Corrupião]
Os Monstros do Morro Agudo.

Chagas e Abraão Batista
[romancista]
É Altino Alagoano
Antônio Américo Medeiros
[dos primeiros]
Tem Dila e Valeriano
Cuíca, Enéias Tavares,
[J. Soares]
E Antônio Paraibano.

Jurandir e Nobelino,
[Zé Faustino]
S. Borges, cordel fez!
Um Antônio Canhotinho
[Zé Sobrinho]
Severino Milanês
‘Telarme’ e Rodolfo Coelho
[um espelho]
Em nove palavras por seis.




Deus, o homem e a natureza – Vila Nova e Geraldo Amâncio (Bela Sextilha)!

Quando canto vejo a meiga
Claridade do luar
Vendo a flor colhendo o beijo
Dos lábios frios do ar
E a praia enfeitando os fios
Do lençol verde do mar

Sinto a aurora brotar
Num formato de miragem
Em cada curva da estrada
Há um leque de paisagem
Abanando as tranças verdes
Dos cabelos da folhagem

Dançando eu crio a imagem
Do filme que Deus coloca
Onde o sol por generoso
Cria, aquece, guia e foca
É quem dá tudo de si
E nada recebe em troca

Quando maio se coloca
É mais bonito o sertão
A floresta se ornamenta
De rosa, flor e botão,
E as flores brancas à noite
Parecem estrelas no chão

O sopro da viração
Deixa a impressão de perfume
Os últimos raios da tarde
Pincelam cristas do cume
Entregam o crepúsculo negro
Aos faróis dos vagalumes

Há espirais de perfume
Nas ‘mãos caldas’ do mormaço
As nuvens do firmamento
Se desmanchando em pedaço
Parece um leque de bruma
Na concha azul do espaço

Terra que assiste o cansaço
Do passo do retirante
Quando as rajadas cruéis
De uma seca horripilante
Tange a poeira dos rastros
Do camponês emigrante

Pingo de orvalho brilhante
Na floresta da ‘masquina’
O pirilampo, um arcanjo,
Da lanterna pequenina
A água, cristal eterno,
Na galeria divina

Seguir de Deus a doutrina
É dever da criatura
Semeia grãos de virtude
E aguarda a safra segura
Plantando a semente boa
E colhe a espiga madura

Respeita as leis da altura
Na dor do esquecimento
Viajo o barco dos anos
Com o seu carregamento
Pérolas que são extraídas
Nas minas do sentimento

E a voz do pensamento
Transforma o sonho em cadência
Cantando o lírio dos campos
Os frutos da pudecência
Na substância abstrata
Dos sonhos da inocência

Onde não foi a ciência
Onde ficou a bonança
A viola é o piano
Que toco desde criança
Sonorizando saudades
Nos teclados da lembrança

Nos planos que a rima alcança
Tendo a vida por irmã
De noite ilusão perdida
De dia esperança vã
Castelos de pedra hoje
Sonhos de areia amanhã

Na neve da cor de lã
De minha ilusão de infante
Há um castelo de estrelas
Nas barras do meu levante
Que não brilharam até hoje
Brilharão daqui por diante

Vou voando a todo instante
Para alcançar outro império
As formas de um mundo novo
As luzes de outro hemisfério
Rompendo a malha invisível
Desse profundo mistério
Por ter notas de saltério
O improviso é um santo
Na vida corta as fronteiras
Em sonho cresce outro tanto
Se transporta sem andar
E voa sem sair do canto

Como um rugido de espanto
Do tiro da belonave
O fogo afastando a nuvem
O eco espantando a ave
Rompendo o sossego aéreo
Do infinito suave

Deus a ninguém deu a chave
Desse edifício perfeito
Mar gigante, terra enorme,
Céu infindo, bosque estreito,
Fez tudo e não veio ainda
Dizer porque tinha feito

Do rio, estuário e leito,
Da fruta, o tempo e a vez,
Ano longo, dia curto,
Semana, estação e mês;
Ele fez tudo, mas pode...
Desfazer tudo que fez

Manda um tudo, rei dos reis,
No raio que do céu desce
Tempestade que desaba
Terremoto que estremece
Em tudo está sua mão
E o homem não reconhece.
 


***
Ouçam cantoria de viola do repentistas nordestinos. Vão a cantorias. Prestigiem esse patrimônio da cultura imaterial do Brasil. Vale a pena ouvir repentistas do naipe de Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amancio, Raimundo Caetano, Severino Feitosa, Antônio Lisboa, Edmilson Ferreira, dentre tantos outros.

Livro de poesia: Na bacia das almas

NA BACIA DAS ALMAS, O SEGUNDO LIVRO DE POESIA DE VERIDIANO MAIA DOS SANTOS, ABORDA POEMAS SOBRE A CIDADE, SUA CONCRETUDE E SEUS SIMBOLISMOS...