Educação em tempo integral e promessas dos prefeitáveis!
Posso até
estar enganado, mas tenho quase certeza que todos os candidatos a prefeito de
Natal em 2012, em suas propagandas eleitorais gratuitas na televisão e em seus
falatórios em debates, falaram e falam em melhorar a educação. O clichê eleitoral
é o de sempre e cada um deles, mais do que o outro, se posta autointitulado
como aquele que vai finalmente trazer a tão bem fadada qualidade para o sistema
público de ensino dessa cidade (seja lá o que isso significa em templos de
pleito). Claro que, depois da redemocratização política do Brasil, seja em
esferas municipais, estaduais ou da federação, o discurso sobre qualidade na
educação em tempos de campanha eleitoral é ‘chover no molhado’. O grande
problema está no que acontece na prática, pós-eleições e posse.
A grande moda
nos últimos tempos pelas de cá da linha do equador é candidato prometendo
educação em tempo integral. Meu amigo, os caboclos enchem a boca pala falar
nessa tal educação em tempo integral que é uma beleza de ver e de ouvir. A
bronca passa no danado do “como”. Como, caras pálidas vocês vão instituir na
província de Cascudo a educação em tempo integral? Acho que esse pequeno
detalhe, diante da realidade histórica da nossa educação pública, sua estrutura
desestruturada e sucateada, seu descaso, o bendito limite prudencial da Lei de
Responsabilidade Fiscal que pouco os candidatos abordam e muito os gestores
empossados exploram, faltam-lhes anunciar em tempos de campanha eleitoral.
Nesta, especificamente, estão os detalhes desse “como”.
Nesses poucos
minutos de redijo este humilde e superficial texto reflexivo, penso em alguns aspectos
primeiros, diante do que há atualmente, para termos um sistema público de ensino nesta
cidade de tempo integral, dada sua realidade:
1º) As escolas
públicas de Natal estão abarrotadas de alunos por salas de aula (40, 45 deles
por turma). Ainda ficam de fora do sistema educacional de Natal por falta de
vagas/escolas/profissionais, outro tanto de milhares de crianças e jovens;
2º) Nossas
escolas, em sua maioria, carece de estrutura física para atender a atual
demanda. Por exemplo: bibliotecas inexistentes ou mínimas e improvisadas com
parco material de leitura, pesquisa e ensino; sala de informática nas escolas,
quando há, que pouco garante o funcionamento pedagógico adequado; quadras
poliesportivas deterioradas e incapazes se prestarem aptas para o
desenvolvimento da educação física de forma apropriada; falta de laboratórios
para o processo de ensino-aprendizagem; e inexistência em quase todas as
escolas de ateliês e salas adaptadas para o ensino da arte.
Agora, vamos
fazer um pequeno cálculo. Em média, nossas escolas têm 10 salas de aula, que
recebem respectivamente em cada ano letivo cerca de 40 alunos. Isso significa
que são 400 alunos no turno da manhã e mais 400 no turno da tarde de uma mesma
escola pública. Logicamente que, se vão (como prometem de forma vazia os nossos
candidatos) integralizar o ensino para os alunos da manhã, onde serão postos
esses alunos no período da tarde? Será que vão colocar 80 alunos por turma? E
vice-versa. É um problema. Porque antes desses políticos prometerem
superficialmente educação em tempo integral deveriam dizer como o farão, como
disse. Vão duplicar as escolas? Vão construir pelo menos o dobro de outras?
Precisaremos de espaço físico.
O professor do
ensino fundamental da escola pública de Natal (só pra falar nestes) se quer ter
o mínimo de dignidade social na sua vida, precisa trabalhar manhã e tarde e,
muitas vezes, à noite para garantir um somatório salarial bem meia-boca no fim
do mês. Logo, para que haja a propalada educação em tempo integral na rede
pública de ensino desta capital, que funcione com qualidade, teremos que ter
muito mais professores. Nossos candidatos, em sendo eleitos, vão contratar mais
docentes? Vão abrir seleção pública via concurso?
No sistema
educacional em tempo integral, pensando de forma rasteira e breve, quase
divagando, é preciso no contra turno que existam oficinas em artes; atividades
de educação física com várias modalidades; aulas de informática; reforço e
acompanhamento pedagógico e socioeducacional; salas de leitura para estudos e
bibliotecas decentes para pesquisa; aulas de campo com transporte adequado;
laboratórios para estudos de ciências. Teremos tudo isso? Teremos profissionais
outros, qualificados, para atuarem junto com os docentes na formação integral
dos alunos? Do contrário, na estrutura escolar que temos nesse caos educacional
que temos nessa falta de tudo que temos nas escolas, se alunos forem colocados
nestas escolas (enclausurados) das 07h às 17h, os coitados surtam em duas
semanas e nunca mais aparecem nas instituições de ensino.
Não sou contra
a educação em tempo integral. Para formarmos cidadãos mais completos e críticos
nós precisamos aumentar o tempo de permanência destes na educação formal, isto
é, nas escolas. Mas, é preciso que se tenha um planejamento mínimo e
investimentos máximos na escola pública de Natal (caso deste causo), formação
continuada dos profissionais, dentre outras navegações intergalácticas do
universo pedagógico.
Segundo Mota (2006), “um projeto como a Escola de Tempo Integral, que
pretende redimensionar e enriquecer a estrutura organizacional da escola com
novos espaços e oferecer maior tempo de permanência aos alunos, pressupõe
matrizes curriculares ampliadas e disposição da equipe escolar. A organização
curricular da Escola de Tempo Integral dispõe que irá manter o desenvolvimento
do currículo básico do Ensino Fundamental, enriquecendo-o com procedimentos
metodológicos inovadores – as Oficinas Curriculares -, a fim de oferecer novas
oportunidades de aprendizagem e vivência através de atividades de natureza
prática conforme as ‘diretrizes gerais’ sobre a Escola de Tempo Integral”.
A mesma autora continua:
“Um dos papéis que esperamos da escola [em especial
que tenha ensino em tempo integral] é o de que ela promova a formação de
pessoas aptas a exercerem sua plena cidadania. As Oficinas Curriculares, de
acordo com as Diretrizes Gerais, complementarão, em espaços diferenciados, as
matrizes curriculares básicas, no intuito de realizar o exercício da cidadania.
Estas Oficinas de enriquecimento curricular viabilizarão, em tempos
complementares, os seguintes objetivos: educar e cuidar da imagem positiva do
aluno; atender às diferentes necessidades de aprendizagem; promover o
sentimento de pertinência e o desenvolvimento de atitudes de compromisso e responsabilidade
para com a escola e com a comunidade, instrumentalizando-o com as competências
e habilidades necessárias ao desempenho do protagonismo juvenil e à
participação social; promover a cultura da paz pelo desenvolvimento de atitudes
de auto-respeito, respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo” (MOTA,
2006).
Retomando uma ideia, seria magnífico se nossos
candidatos parassem de usar a 'verbarrogia modística' de maneira vazia e, para
além de falarem em suas campanhas de promoção da qualidade na educação em suas futuras hipotéticas gestões e educação em tempo
integral só porque acham charmoso anunciarem em suas campanhas, pudessem fazer esses
anúncios para o eleitor de forma detalhada e mais aprofundada, isto é, de maneira verdadeiramente séria (vamos combinar!). Deveriam mostrar
como seriam os supostos investimentos na educação desde a estrutura até a valorização dos profissionais que nela militam; como seria o planejamento que têm
em mente para debaterem com os professores a implantação integral do sistema
educacional de Natal, etc etc... e não só se utilizarem das propagandas
políticas para promessas eleitoreiras que mais parecem meras promessas.
MOTA,
Silva Maria C. Escola em tempo integral:
da concepção à prática. VI Seminário da Redestrado: regulação educacional e
trabalho docente, RJ, 2006.
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