terça-feira, 18 de setembro de 2012

Como será isso? Explique-me, cara pálida!



 Educação em tempo integral e promessas dos prefeitáveis!

Posso até estar enganado, mas tenho quase certeza que todos os candidatos a prefeito de Natal em 2012, em suas propagandas eleitorais gratuitas na televisão e em seus falatórios em debates, falaram e falam em melhorar a educação. O clichê eleitoral é o de sempre e cada um deles, mais do que o outro, se posta autointitulado como aquele que vai finalmente trazer a tão bem fadada qualidade para o sistema público de ensino dessa cidade (seja lá o que isso significa em templos de pleito). Claro que, depois da redemocratização política do Brasil, seja em esferas municipais, estaduais ou da federação, o discurso sobre qualidade na educação em tempos de campanha eleitoral é ‘chover no molhado’. O grande problema está no que acontece na prática, pós-eleições e posse.

A grande moda nos últimos tempos pelas de cá da linha do equador é candidato prometendo educação em tempo integral. Meu amigo, os caboclos enchem a boca pala falar nessa tal educação em tempo integral que é uma beleza de ver e de ouvir. A bronca passa no danado do “como”. Como, caras pálidas vocês vão instituir na província de Cascudo a educação em tempo integral? Acho que esse pequeno detalhe, diante da realidade histórica da nossa educação pública, sua estrutura desestruturada e sucateada, seu descaso, o bendito limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal que pouco os candidatos abordam e muito os gestores empossados exploram, faltam-lhes anunciar em tempos de campanha eleitoral. Nesta, especificamente, estão os detalhes desse “como”.

Nesses poucos minutos de redijo este humilde e superficial texto reflexivo, penso em alguns aspectos primeiros, diante do que há atualmente, para termos um sistema público de ensino nesta cidade de tempo integral, dada sua realidade:
1º) As escolas públicas de Natal estão abarrotadas de alunos por salas de aula (40, 45 deles por turma). Ainda ficam de fora do sistema educacional de Natal por falta de vagas/escolas/profissionais, outro tanto de milhares de crianças e jovens;
2º) Nossas escolas, em sua maioria, carece de estrutura física para atender a atual demanda. Por exemplo: bibliotecas inexistentes ou mínimas e improvisadas com parco material de leitura, pesquisa e ensino; sala de informática nas escolas, quando há, que pouco garante o funcionamento pedagógico adequado; quadras poliesportivas deterioradas e incapazes se prestarem aptas para o desenvolvimento da educação física de forma apropriada; falta de laboratórios para o processo de ensino-aprendizagem; e inexistência em quase todas as escolas de ateliês e salas adaptadas para o ensino da arte.

Agora, vamos fazer um pequeno cálculo. Em média, nossas escolas têm 10 salas de aula, que recebem respectivamente em cada ano letivo cerca de 40 alunos. Isso significa que são 400 alunos no turno da manhã e mais 400 no turno da tarde de uma mesma escola pública. Logicamente que, se vão (como prometem de forma vazia os nossos candidatos) integralizar o ensino para os alunos da manhã, onde serão postos esses alunos no período da tarde? Será que vão colocar 80 alunos por turma? E vice-versa. É um problema. Porque antes desses políticos prometerem superficialmente educação em tempo integral deveriam dizer como o farão, como disse. Vão duplicar as escolas? Vão construir pelo menos o dobro de outras? Precisaremos de espaço físico.

O professor do ensino fundamental da escola pública de Natal (só pra falar nestes) se quer ter o mínimo de dignidade social na sua vida, precisa trabalhar manhã e tarde e, muitas vezes, à noite para garantir um somatório salarial bem meia-boca no fim do mês. Logo, para que haja a propalada educação em tempo integral na rede pública de ensino desta capital, que funcione com qualidade, teremos que ter muito mais professores. Nossos candidatos, em sendo eleitos, vão contratar mais docentes? Vão abrir seleção pública via concurso?

No sistema educacional em tempo integral, pensando de forma rasteira e breve, quase divagando, é preciso no contra turno que existam oficinas em artes; atividades de educação física com várias modalidades; aulas de informática; reforço e acompanhamento pedagógico e socioeducacional; salas de leitura para estudos e bibliotecas decentes para pesquisa; aulas de campo com transporte adequado; laboratórios para estudos de ciências. Teremos tudo isso? Teremos profissionais outros, qualificados, para atuarem junto com os docentes na formação integral dos alunos? Do contrário, na estrutura escolar que temos nesse caos educacional que temos nessa falta de tudo que temos nas escolas, se alunos forem colocados nestas escolas (enclausurados) das 07h às 17h, os coitados surtam em duas semanas e nunca mais aparecem nas instituições de ensino.

Não sou contra a educação em tempo integral. Para formarmos cidadãos mais completos e críticos nós precisamos aumentar o tempo de permanência destes na educação formal, isto é, nas escolas. Mas, é preciso que se tenha um planejamento mínimo e investimentos máximos na escola pública de Natal (caso deste causo), formação continuada dos profissionais, dentre outras navegações intergalácticas do universo pedagógico.

Segundo Mota (2006), “um projeto como a Escola de Tempo Integral, que pretende redimensionar e enriquecer a estrutura organizacional da escola com novos espaços e oferecer maior tempo de permanência aos alunos, pressupõe matrizes curriculares ampliadas e disposição da equipe escolar. A organização curricular da Escola de Tempo Integral dispõe que irá manter o desenvolvimento do currículo básico do Ensino Fundamental, enriquecendo-o com procedimentos metodológicos inovadores – as Oficinas Curriculares -, a fim de oferecer novas oportunidades de aprendizagem e vivência através de atividades de natureza prática conforme as ‘diretrizes gerais’ sobre a Escola de Tempo Integral”.

A mesma autora continua:
“Um dos papéis que esperamos da escola [em especial que tenha ensino em tempo integral] é o de que ela promova a formação de pessoas aptas a exercerem sua plena cidadania. As Oficinas Curriculares, de acordo com as Diretrizes Gerais, complementarão, em espaços diferenciados, as matrizes curriculares básicas, no intuito de realizar o exercício da cidadania. Estas Oficinas de enriquecimento curricular viabilizarão, em tempos complementares, os seguintes objetivos: educar e cuidar da imagem positiva do aluno; atender às diferentes necessidades de aprendizagem; promover o sentimento de pertinência e o desenvolvimento de atitudes de compromisso e responsabilidade para com a escola e com a comunidade, instrumentalizando-o com as competências e habilidades necessárias ao desempenho do protagonismo juvenil e à participação social; promover a cultura da paz pelo desenvolvimento de atitudes de auto-respeito, respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo” (MOTA, 2006).

Retomando uma ideia, seria magnífico se nossos candidatos parassem de usar a 'verbarrogia modística' de maneira vazia e, para além de falarem em suas campanhas de promoção da qualidade na educação em suas futuras hipotéticas gestões e educação em tempo integral só porque acham charmoso anunciarem em suas campanhas, pudessem fazer esses anúncios para o eleitor de forma detalhada e mais aprofundada, isto é, de maneira verdadeiramente séria (vamos combinar!). Deveriam mostrar como seriam os supostos investimentos na educação desde a estrutura até a valorização dos profissionais que nela militam; como seria o planejamento que têm em mente para debaterem com os professores a implantação integral do sistema educacional de Natal, etc etc... e não só se utilizarem das propagandas políticas para promessas eleitoreiras que mais parecem meras promessas.




MOTA, Silva Maria C. Escola em tempo integral: da concepção à prática. VI Seminário da Redestrado: regulação educacional e trabalho docente, RJ, 2006.




                                                

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